Política de juros altos do BC impede trabalhador de ter salário maior
Pesquisa Caged mostra que apesar do aumento de vagas formais, o valor dos salários na admissão diminuiu. Para a vice-presidenta da CUT, Caged mostra que presidente do BC está errado ao criticar pleno emprego.
A entrevista que o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, concedeu à emissora CNN, na semana passada, em que defendeu manter a taxa Selic alta (os juros oficiais do país), argumentando que o aquecimento do mercado de trabalho traria aumento da inflação pelo fato de as empresas oferecerem melhores salários, o que aumentaria o consumo e, consequentemente os preços, mostra como pensa o mercado financeiro que põe a “culpa” nos trabalhadores e nas trabalhadoras pela crise pela qual passa o sistema capitalista em todo o mundo.
Ainda assim, ao contrário do que disse Campos Neto e, apesar das vagas formais de emprego terem aumentando em quase 201,7 mil em junho e o acumulado no ano estar em 1,3 milhão de novos postos (alta de 26,2% frente aos seis primeiros meses de 2023), o salário médio de admissão em junho foi de R$ 2.132,82. Comparado ao mês anterior, houve uma redução real de R$ 5,15, queda de 0,24%. Os dados são do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que registra o número de empregos formais e os valores de salários na admissão do trabalhador, ao contrário da pesquisa IBGE que levanta os dados dos empregos formais e informais.
A vice-presidenta da CUT Nacional, Juvandia Moreira, elogia os esforços do presidente Lula (PT), para gerar empregos no país, por meio de investimentos no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), em moradia e outras políticas econômicas, mas entende que para se ter empregos de mais qualidade e melhores salários é preciso ter investimento estrutural. Porém, para isso são precisos recursos financeiros que, infelizmente, vêm sendo transferidos para pagar a alta taxa de juros que o presidente do BC insiste em manter para atender o mercado financeiro que lucra mais com o rentismo do que investindo em produção. O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC decide hoje a taxa Selic. Analistas econômicos avaliam que será mantida em 10,50%.
“Esses novos empregos gerados dependem de investimento no setor produtivo e investimentos estruturais que tragam empregos de qualidade, é isso que nós defendemos. Então, tem que diminuir os juros. Por isso que nós denunciamos que o Banco Central está boicotando a economia brasileira, que está tirando dinheiro do orçamento, que poderia virar investimento na indústria, na reindustrialização do país, gerando empregos com salários maiores, com qualidade”, afirma Juvandia.
“Para se ter investimento estrutural e gerar empregos com melhores salários é preciso ter mais recursos no orçamento da União e, para isso é preciso ter juros menores. Então, é importante essa manifestação que a CUT promoveu com as outras centrais, em diversas cidades do Brasil, por menos juros, mais empregos”, complementa Juvandia, ao se referir aos atos contra os juros altos realizados na terça-feira (30). No mês passado o setor público brasileiro gastou R$ 94,9 bilhões só com os serviços financeiros de sua dívida que está diretamente relacionada à Selic.
A dirigente da CUT ressalta, no entanto, que o movimento sindical tem conseguido reajustes com aumento real nos salários para aqueles que já estão empregados, que estão bem organizados, que têm sindicatos fortes, para organizar a luta. O último boletim de “Olho nas Negociações” do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), mostra que quase 88% das negociações salariais, entre sindicatos e patrões, resultaram em ganhos acima da inflação para os trabalhadores.
Ministro do Trabalho critica baixos salários
A queda no valor dos salários do trabalhador de carteira assinada foi criticada pelo ministro do Trabalho e Emprego, Luiz Marinho, que entende que a solução para o crescimento da economia do país passa por melhores salários para os trabalhadores.
“Quanto maior a renda do trabalhador, maior massa salarial. Significa melhorar o nível de consumo das famílias para bens duráveis e, portanto, para indústria produzir mais e indústria crescer mais”, afirmou após o anúncio dos números do Caged, na terça-feira (30).
“Estamos com salários muito achatados no Brasil. Veja o nível do que estamos falando de salários iniciais, é muito baixo. Mercado de trabalho aquecido pressupõe melhores remunerações também”, argumentou ainda Marinho.
Com informações da Isto É Dinheiro
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