Subir às bases
Com todas as vantagens institucionais, legais e constitucionais
(unicidade na base e pluralidade na cúpula, representação de toda a
categoria, direito de greve e negociações periódicas intermediadas, às
vezes, pela Justiça do Trabalho) o movimento sindical dos trabalhadores
brasileiros coexiste com uma fragilidade daninha: a baixa presença
sindical nos locais de trabalho limitada quase sempre às sindicalizações
individuais.
Tornou-se clássica uma observação de
um dirigente sindical estrangeiro, em visita ao nosso país, ao
contrapor a pujança das sedes dos sindicatos e de suas instalações e a
fragilidade reconhecida da organização sindical na visita às empresas.
É muito rara a presença nelas de organizações sindicais permanentes, as comissões de fábrica.
Os
delegados sindicais na empresa (quando existem) são expressões do
coletivo sindical central; as próprias CIPAs são muito limitadas sob
esta ótica. Raríssimos são os sindicatos que ao realizarem eleições
preveem um primeiro turno eleitoral para escolha da organização sindical
nos grandes locais de trabalho.
Esta fragilidade,
até hoje não superada, tem levado as direções sindicais a subestimarem o
papel da base organizada nas mobilizações e campanhas sindicais,
acontecendo, quase sempre, “a fuga para as ruas”.
É
o que testemunhamos hoje na campanha sindical contra os juros altos,
conduzida pelas direções sindicais com a realização de mobilizações nas
sedes e concentração de lideranças nas ruas (há, às vezes,
excepcionalmente “comícios” de porta de fábrica).
Por
mais meritórias que sejam estas iniciativas são insuficientes ao não
relacionarem o dia a dia nos locais de trabalho e o conjunto dos
representados com o tema tratado na campanha.
“Subir
às bases” deve continuar sendo um esforço constante, inteligente e
necessário para superar – em um ambiente favorável – a fragilidade
estratégica.
João Guilherme Vargas Netto é consultor de entidades sindicais de trabalhadores
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