Bolsonaro culpa jornalista e indigenista ameaçado pelo próprio sumiço
O presidente Jair Bolsonaro (PL) culpou o jornalista inglês Dom Phillips e o indigenista Bruno Araújo Pereira, que sumiram na região do Vale do Javari, na Amazônia, desde a tarde de domingo (5), pelo próprio desaparecimento.
Bolsonaro disse considerar uma "aventura não recomendável" a viagem pela região do colaborador do jornal inglês The Guardian e do servidor da Fundação Nacional do Índio (Funai). Bruno se licenciou da Funai para coordenar um projeto de melhoria da vigilância das terras indígenas, iniciativa que enfrenta forte resistência de madeireiros, garimpeiros e pescadores ilegais que atuam na região. Ele inclusive recebeu um bilhete com ameças à sua vida, mas isso o presidente ignorou.
"Realmente, duas pessoas apenas em um barco, numa região daquelas, completamente selvagem... É uma aventura que não é recomendável que se faça. Tudo pode acontecer. Pode ser um acidente, pode ser que eles tenham sido executados... Tudo pode acontecer. A gente espera e pede a Deus que sejam encontrados brevemente. As Forças Armadas estão trabalhando com muito afinco na região," disse o presidente.
Eles sumiram depois de uma pausa em uma comunidade ribeirinha, quando estavam fora da terra indígena na região do Vale do Javari, voltando para a cidade de Atalaia do Norte, no oeste do Amazonas.
Um bilhete apócrifo com ameaças foi deixado no escritório de advocacia que representa a União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja), ONG para a qual Bruno Araújo Pereira vinha trabalhando voluntariamente, em Tabatinga, no Amazonas.
”Sei quem são vocês e vamos achar para acertar as contas”, diz um trecho do bilhete de acordo com o jornal O Estado S. Paulo. “Sei que quem é contra nós é o Beto Índio e o Bruno da Funai é quem manda os índios irem prender nossos motores e tomar os nossos peixes. (...) Se querem dar prejuízo, melhor se aprontarem. Está avisado”, diz um outro trecho da mensagem. Ainda de acordo com a reportagem, o bilhete surgiu há cerca de um mês e meio e foi endereçado ao advogado Eliesio Marubo.
Beto e Eliesio Marubo são líderes da União das Organizações Indígenas do Vale do Javari (Univaja).
”Não tenho a menor dúvida (que o sumiço de Pereira está relacionado com a ameaça). Era uma questão de tempo para acontecer. Infelizmente é dessa maneira, até finalizarem o que eles têm que fazer. O Estado não está presente e deixa um espaço vazio. Onde o Estado não está, o crime está”, disse Marubo ao jornal.
As buscas pelo indigenista e pelo jornalista britânico prosseguem nesta terça-feira (7) com o apoio do Ministério Público Federal (MPF), Polícia Federal (PF), Marinha e Exército.
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