Mês do trabalhador para reforçar identidade coletiva e de luta!
Atos de 1º de Maio ampliam consciência sobre importância dos sindicatos nos direitos trabalhistas
por JURUNA e RONALDO LEITE
Neste
ano, os sindicatos voltaram às praças para comemorar o 1º de maio.
Retomar as ruas, mesmo com o corte de financiamento promovido por Temer e
Bolsonaro, mostra como os sindicatos estão vivos!
O ato da Praça Charles Miller completou o conjunto de atos do Dia do
Trabalhador realizados desde o aprofundamento da escalada recessiva e
conservadora, com a posse de Jair Bolsonaro. Nos 4 anos desta gestão
presidencial, marcada por um perfil anti-trabalhador, fizemos bem em
unir nossas forças para enfrentar todos os males que tivemos e ainda
temos que enfrentar. Realizamos 2 atos online nos anos em que a pandemia
estava mais forte, 2020 e 2021, e presenciais, um no início e outro no
fim do desgoverno.
Comparações
com os megaeventos realizados na Praça Campos de Bagatelle, com shows
populares e sorteios de prêmios para a população, que alguns insistem em
fazer, são incorretas. Desde 2017, as comemorações expressam nossa
resistência, nosso pesar com a pandemia, além de reafirmar nossas lutas.
É importante trazer esse contexto para desfazer interpretações que usam
métricas de comparação incompatíveis com a realidade atual. Isso porque
os atos do 1º de Maio servem como um termômetro político e tem um peso
muito grande em um ano eleitoral. A falsa comparação do 1º de Maio de
2022 com outros eventos e a cobrança de uma linearidade que não existe,
induz a uma avaliação política errada, de esvaziamento, quando na
verdade estamos atuando em prol das mudanças que o país precisa.
Não vamos deixar de fazer aqui um balanço daquilo que podemos melhorar.
Para além dos discursos sobre nossas pautas, que são necessários, mas
que precisam fluir melhor, a comemoração do Dia do Trabalhador deve,
antes de tudo, atrair o povo. E não há incompatibilidade em fazer um
evento popular com um nível político elevado.
Podemos, nós sindicalistas, mudar algumas coisas, mexer aqui e ali,
fazer juntos ou separados, convidar artistas de sucesso e até mesmo
realizar sorteios para que o público compareça para prestigiar, se
divertir e se envolver nos debates acerca dos rumos do país. Avançamos
em nosso papel de mobilizar e de atualizar o movimento sindical.
Mas, à parte todo e esforço e boa vontade, devemos considerar, e muitos
analistas escondem ou não se dão conta, que existem questões profundas
que dizem respeito à disseminação no senso comum de uma campanha
antissindical. Estas têm a mesma raiz da mentalidade escravocrata que se
perpetua no Brasil, mesmo depois da abolição de 1888. Isso está no
centro dos problemas. Problemas que pavimentaram as reformas liberais de
Michel Temer, a vitória de Jair Bolsonaro, a pobreza, o desemprego e a
precarização.
Hoje, a mentalidade antissindical se disfarça de um discurso moderno.
Os defensores da reforma trabalhista que retirou direitos, por exemplo,
dizem que devemos olhar para a frente e não para trás. Como se restituir
direitos fosse olhar para trás e, aprofundar a reforma, olhar para
frente. Na verdade, é a reforma, com sua ampla retirada de direitos, que
é o retrocesso ao Brasil pré-CLT.
Mais do que isso, a fantasia pós-moderna que prega um discurso
antissindical mascara ideias conservadoras que não ajudam os
trabalhadores. Estamos falando de discursos que incentivam a divisão do
movimento social e político em pautas individuais baseadas em diferenças
em detrimento da união de forças daqueles que querem e precisam se
organizar para a luta. Esta é uma arma que atualmente os neoliberais
usam para colocar os trabalhadores uns contra os outros e, sobretudo,
contra o movimento sindical. Está evidente quem ganha com isso. E,
percebendo sua decadência, os arautos do liberalismo tenderão a ficar
ainda mais agressivos.
Após a longa pandemia e com as adversidades políticas e econômicas,
entretanto, a realidade se impõe; a consciência sobre a importância dos
sindicatos e da luta pelos direitos tem ganhado espaço e cada vez mais
pessoas vem percebendo a falsidade do discurso meramente identitário sem
base social e de classe. A fundação do sindicato na Amazon nos EUA e as
mudanças na legislação trabalhista na Espanha são alguns exemplos.
Essas são as questões de fundo que não só desafiam o nosso 1º de Maio,
mas que tentam nos liquidar dia a dia. Por isso, além de continuar
avançando em nossos atos e exercícios de diálogo e de unidade,
precisamos também reforçar o discurso pró-trabalhador e esforçar para
elevar a consciência política do povo brasileiro.
Lançar o mês do trabalhador é uma forma de valorizar e reforçar nossa
identidade operária para que todos e todas tenham em mente tudo pelo que
devemos lutar: jornada de trabalho decente, valorização salarial, saúde
e segurança no trabalho, aposentadoria digna, convenção coletiva. Nosso
movimento é um movimento agregador, que respeita a diversidade e
aproxima a todos. E é com ele que vamos superar a crise, o desgoverno e
criar condições para um país melhor
João
Carlos Gonçalves, Juruna, 69 anos, é secretário-geral da Força Sindical
e vice-presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo
Ronaldo
Leite, 44 anos, é carteiro e secretário geral da CTB (Central de
Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil). Também é Conselheiro Fiscal do
Sindicato dos Correios do Rio de Janeiro
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