ALIMENTAÇÃO - É UMA OBRIGAÇÃO OU UMA FACULDADE DO EMPREGADOR?
Sergio Ferreira Pantaleão
A alimentação, diferentemente do vale-transporte, não é uma obrigação legal imposta ao empregador, ou seja, não há lei que estabeleça que o empregador deva fornecer refeição ao empregado.
Não obstante, o art. 458 da CLT dispõe que a alimentação fornecida pelo empregador ao empregado, está compreendida no salário:
Art. 458 da CLT:
"Além do pagamento em dinheiro, compreendem-se no salário, para todos os efeitos legais, a alimentação, habitação, vestuário ou outras prestações in natura que a empresa, por força do contrato ou do costume, fornecer habitualmente ao empregado. Em caso algum será permitido o pagamento com bebidas alcoólicas ou drogas nocivas."
A
redação deste artigo foi dada pela Lei 229 de 28.02.1967 e como podemos
deduzir, imagina-se que nesta época ainda era possível que o
trabalhador tivesse condições (tempo suficiente) para se ausentar do
trabalho e fazer sua refeição em sua residência, razão pela qual a
alimentação poderia ser considerada como salário.
Com
o crescimento da economia, o mercado de trabalho tomou uma dimensão
gigantesca e observamos, já há muito tempo, que tornou-se um privilégio
poder ter as refeições diárias no ambiente familiar, pois é comum o
trabalhador residir em uma cidade e trabalhar em outra ou, ainda que a
residência seja na mesma cidade em que labora, o tempo de deslocamento entre o trabalho e residência é bem superior a 1 (uma) hora, inviabilizando tanto ao empregado quanto ao empregador se valer deste desgaste.
Assim
como em vários outros aspectos trabalhistas, a questão da alimentação
vem sendo negociada por ajuste individual com o empregador ou por meio
de normas coletivas (convenções, acordos coletivos e sentenças normativas).
Em complemento a alguns direitos dos trabalhadores estabelecidos pela CLT, os acordos individuais ou coletivos garantem ao empregado o fornecimento de alimentação in natura, ou mediante vales (também chamados de tiquetes refeição ou alimentação).
É
indiscutível que o fato não se trata apenas de uma questão legal, mas
da necessidade do próprio empregador que, num mercado competitivo e que
preza pela qualidade e a necessidade de atender seus clientes em tempo
cada vez mais curto, necessitam que os empregados se ausentem o menor
tempo possível da atividade laboral.
Não
obstante, se considerarmos que não há obrigação no fornecimento de
alimentação por parte do empregador e se este tivesse a disponibilidade
de dispensar seus empregados para fazer suas refeições nas próprias
residências, ainda assim teria alguns inconvenientes como o tempo
despendido pelo empregado (ida e volta), os riscos de acidente de trajeto,
as intervenções familiares (problemas conjugais, doenças, afazeres e
etc.) que poderiam dispersar a atenção no trabalho por parte do
empregado e comprometer, consequentemente, o seu rendimento.
Portanto, embora não haja previsão legal da obrigatoriedade em fornecer a alimentação, o empregador que concede este benefício acaba se beneficiando - obtendo vantagens como os incentivos fiscais e principalmente, a satisfação do trabalhador. Este terá como preocupação a melhoria do rendimento do seu trabalho (produtividade) e não como irá fazer ou deixar de fazer uma refeição com qualidade, tempo de transporte, etc.
Vale ressaltar que
a lei dispõe sobre a ajuda alimentação por parte do empregador e não no
custeio total, ou seja, o fornecimento de alimentação pela empresa de
forma gratuita, caracteriza parcela de natureza salarial (art. 458 da
CLT), incidindo assim, todos os reflexos trabalhistas sobre o valor
pago.
CONDIÇÕES DE TRABALHO E INCENTIVOS FISCAIS
O Ministério do Trabalho e Emprego busca, por meio das Normas Regulamentadoras,
estabelecer as condições mínimas de trabalho para que o empregado possa
desenvolver suas atividades e manter a boa condição de saúde e a
qualidade de vida.
Além da NR-24 (que disciplina as normas dos locais para refeições), temos a Lei 6.321/1976, regulamentada pelo Decreto 05/1991, que trata especificamente sobre o Programa de Alimentação do Trabalhador - PAT.
O PAT foi
instituído com o objetivo de melhorar as condições nutricionais e de
qualidade de vida dos trabalhadores, a redução de acidentes e o aumento
da produtividade, tendo como unidade gestora a Secretaria de Inspeção do
Trabalho/Departamento da Saúde e Segurança no Trabalho.
É importante ressaltar que no PAT a parcela paga in natura pela empresa não tem natureza salarial, não se incorpora à remuneração para quaisquer efeitos, não constitui base de incidência de contribuição previdenciária ou do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) nem se configura como rendimento tributável do trabalhador (art. 6º do Decreto 05/1991).
Não
obstante, é válido lembrar que a lei dispõe sobre a ajuda alimentação
por parte do empregador e não no custeio total, ou seja, o fornecimento
de alimentação deve ser custeado parte pela empresa e parte pelo
empregado, pois o fornecimento de forma gratuita, caracteriza parcela de
natureza salarial, incidindo assim, todos os reflexos trabalhistas
sobre o valor pago.
Da
mesma forma, poderá ser caracterizada a natureza salarial o valor
custeado pelo empregador, independentemente de ser parcial ou não,
quando este conceder o benefício aos empregados, sem ter aderido ao PAT
através do contrato de adesão.
Observados alguns critérios, a pessoa jurídica ainda pode deduzir do Imposto de Renda devido, com base no lucro real, o valor equivalente à aplicação da alíquota cabível do Imposto de Renda sobre a soma das despesas de custeio realizadas na execução do PAT, diminuída a participação dos empregados no custo das refeições.
Para maiores detalhes sobre a adesão ao PAT e incentivos fiscais, acesse o tópico Programa de Alimentação do Trabalhador, no Guia Trabalhista Online.
Sergio Ferreira Pantaleão é Advogado, Administrador, responsável técnico pelo Guia Trabalhista e autor de obras na área trabalhista e Previdenciária.
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