Pandemia muda foco das negociações coletivas, aponta Dieese

 

A crise econômica, aprofundada pela pandemia da Covid-19, tem sido desculpa para o setor patronal rebaixar salários e tentar retirar direitos de muitas categorias. Pesquisa do Dieese, divulgada sexta (14), mostra que categorias com Sindicatos combativos, conseguiram preservar empregos e direitos nas negociações salariais no primeiro semestre de 2020.

O boletim “De olho nas negociações” do Dieese analisou 8.574 acordos negociados nos seis primeiros meses deste ano contra 8.827 no mesmo período do ano passado. Embora o aumento no número de acordos seja de apenas 3%, o que se nota é que em todas as cidades do País, sem exceção, houve algum tipo de negociação relacionada à Covid-19.

A pesquisa do Dieese mostra também que o número de cláusulas relativas a reajustes salariais caiu em relação ao mesmo período do ano passado de 2.970 para 2.153 (- 27,50%). As maiores quedas foram registradas nos dois primeiros meses, após o início da pandemia. Em abril foi 41% menor e em maio 39%.

Segundo o técnico responsável pela pesquisa, Luís Ribeiro, embora tenha mudado o perfil de negociações, o que se viu foi o sindicalismo com desafios para realizar assembleias virtuais, a fim conseguirem manter direitos e empregos.

“Muitos Sindicatos conseguiram negociar tanto um período maior de estabilidade do emprego como uma melhoria no rendimento dos trabalhadores atingidos pela MP 936 de suspensão de contrato e redução de jornada e salários”, diz Ribeiro.

A pesquisa aponta que a maior parte dos instrumentos com cláusulas sobre a Covid-19 foi negociada pelos setores dos serviços (43%) e da indústria (41%). As atividades com maior número de instrumentos coletivos relacionados à pandemia são a metalúrgica (17%), turismo e hospitalidade e comércio atacadista e varejista (ambos com 13%), transportes (12%) e química e farmacêutica (7%).

Segundo Fausto Augusto Júnior, diretor-técnico do Dieese, a luta dos Sindicatos tem sido cada vez mais difícil e demorada. “Têm categorias que estão negociando desde o mês de maio para conseguir impedir tanto a retirada de direitos, de pautas sociais como avançar nas questões salariais. Antes esse período era de um mês”, diz.

Fausto ressalta que as maiores dificuldades têm sido sentidas por trabalhadores de empresas públicas como os Correios e a Petrobras que estão próximas da data-base. “A maior dificuldade nas negociações das empresas públicas se deve a postura do atual governo de reduzir direitos a qualquer custo”, afirma o diretor-técnico do Dieese.

Acesse o boletim “De olho nas negociações”.

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