Maia e centrais se antecipam à reforma sindical
Em
mais uma disputa de protagonismo com o governo, o presidente da Câmara
dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), acertou com centrais sindicais,
confederações patronais (como CNI, CNC, CNA e CNT) e federações, como a
Febraban, a apresentação de uma proposta de emenda constitucional (PEC)
para discutir a reforma sindical.
A intenção dos trabalhadores, ao
procurar Maia, é se antecipar à reforma sindical em elaboração pelo
secretário especial de Previdência e Trabalho, Rogério Marinho (PSDB) —
principal responsável pela reforma trabalhista, que acabou com a
contribuição sindical obrigatória e a tornou opcional.
Marinho montou um grupo de juristas,
economistas e técnicos do governo para elaborar uma proposta até o fim
do ano e deixou de fora sindicatos. O coordenador do grupo, o secretário
do Trabalho, Bruno Dalcomo, prometeu aos sindicalistas ouvir sugestões,
mas eles não terão direito a decidir na confecção do texto.
Marinho estaria se espelhando no modelo
americano, de um sindicato para cada empresa, estrutura completamente
diferente da brasileira, onde as entidades representam categorias por
município ou região, como os metalúrgicos de São Paulo ou os motorista
de ônibus do ABC. No modelo dos Estados Unidos, os funcionários do Banco
do Brasil se uniriam em um sindicato exclusivo, por exemplo, sem a
participação dos empregados de outros bancos.
“O governo sinalizou com o pluralismo
por empresa. No Brasil vai haver milhões de sindicatos, vai ser pior do
que era antes, e com um sindicalismo muito mais enfraquecido”, disse o
presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, que
tem preferência pelo modelo alemão, de sindicatos nacionais por
categoria.
Ainda não há uma definição consensual
sobre o modelo a ser adotado, mas o fim da unicidade sindical (de 1
sindicato por município/região), antes rechaçado no meio, agora já é
aceito. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) já defendia a mudança
nesse modelo, mas suas bases resistiam.
A Força Sindical, antes contrária,
agora é favorável a disputa entre sindicatos na mesma base. “Todo mundo
está percebendo que, se não atualizar a legislação, tornar as estruturas
mais democráticas, não há solução”, disse o secretário-geral da Força,
João Carlos Gonçalves, o “Juruna”.
As grandes confederações patronais,
como a da Indústria (CNI), da Agropecuária (CNA), do Comércio e Serviços
(CNC) e dos Transportes (CNT), além de entidades como a Federação
Brasileira de Bancos (Febraban), enviaram representantes para a reunião
com Maia e tem participado das discussões com os trabalhadores, mas
também não fecharam uma posição.
Uma proposta em discussão, apurou o
Valor, é autorizar mais de 1 sindicato da categoria por cidade, mas só
permitir que sentem à mesa de negociações, para firmar os acordos
coletivos, os que tiverem um percentual mínimo de filiados em relação ao
conjunto da categoria. O percentual exato ainda está em debate, mas
teria uma transição de 10 anos, com aumento gradual. Se mais de 1
sindicato alcançar essa representação mínima, ambos terão direito de
negociar com o sindicato patronal os benefícios dos trabalhadores.
A representatividade seria medida a
cada 3 anos e a categoria, por plebiscito, poderia delegar a 1 desses o
direito de falar em nome de todos pelo período. Para evitar
“concorrência desleal” entre os sindicatos, haveria regras para impedir
taxas muito baixas de modo a esvaziar 1 sindicato em detrimento de
outro.
Toda essa estrutura deixaria de ser
gerida pelo governo federal, que hoje decide quando há disputas entre
sindicatos — como, por exemplo, se deve ser autorizada a criação de uma
entidade para representar os lojistas de shopping onde já existe um
sindicato dos lojistas em geral. A proposta em geral é que essas
disputas passem a ser arbitradas por 1 novo órgão, bipartite, com
representantes dos sindicatos laborais e empresariais, que também
ficaria responsável por medir a representatividade e regulamentar as
taxas pagas.
Um dos grandes objetivos do movimento
com a PEC é estabelecer formas de financiamento, que despencou desde o
fim do imposto sindical obrigatório. Ainda há divergências, mas uma
ideia é retomar o desconto na folha de salário dos empregados e o
pagamento de uma taxa quando for fechado com o sindicato patronal o
acordo coletivo da categoria, com a definição do reajuste salarial e dos
demais benefícios. Uma hipótese em avaliação, mais impopular, é que o
acordo coletivo só tenha validade para os filiados do sindicato.
A Confederação Nacional da Indústria
(CNI) disse, em nota, que não existe proposta concreta de reforma
sindical para tomar posição. CNT e CNA não responderam. Febraban disse
que não comenta projetos em discussão.
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