Vitória: jornalistas de Alagoas encerram greve depois de decisão da Justiça
Depois de nove dias de greve, jornalistas no estado voltarão a trabalhar nesta quinta-feira (4), sem redução salarial e com reajuste de 3%. Trabalhadores não terão descontados os dias parados
Publicado: 03 Julho, 2019 - 17h24 | Última modificação: 03 Julho, 2019 - 17h33
Escrito por: Érica Aragão
No nono dia de greve contra a redução de 40% no piso salarial, os jornalistas e as jornalistas de Alagoas aprovaram, por unanimidade, encerrar a paralisação nesta quarta-feira (2) e voltar aos trabalhos nesta quinta-feira (3).
A decisão foi tomada em assembleia, em frente ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT), onde a categoria permanecia acampada desde as primeiras horas do dia para esperar o resultado do julgamento do dissídio, que incluía a pauta da redução salarial, proposta pelas três maiores empresas de comunicação do estado.
O TRT decidiu negar a proposta das TVs Gazeta (Rede Globo), Pajuçara (Rede Record) e Ponta Verde (SBT) de reduzir o valor do piso salarial dos jornalistas em 40%, e ainda afirmou que ela é inconstitucional e vergonhosa. A Justiça do Trabalho decidiu também pelo aumento do piso da categoria em 3%. Com a decisão unânime dos desembargadores, o piso salarial passa a ser de R$ 3.672,22.
Além disso, os dias de greve não serão descontados e a categoria ainda conquistou uma estabilidade salarial por 90 dias. Caso a empresa mande alguém embora neste período, o jornalista ou a jornalista terá direito a receber três meses de salários.
’Voltamos a trabalhar amanhã com a mesma garra que antes ou até mais animados, vestindo a camisa das empresas que trabalhamos. Os patrões se uniram para cortar nossos salários e os trabalhadores se uniram para dizer não ao corte salarial e vencemos a batalha’, disse Wadson Correia, repórter da TV Ponta Verde, afiliada ao SBT.
Segundo o repórter de Alagoas, ’o que doeu nesses nove dias de greve é que eu não pude noticiar esta nossa luta, mas, ao mesmo tempo, ao andar nas ruas de Maceió [capital de Alagoas] durante os protestos contra a redução salarial pude perceber como a população sentiu falta dos noticiários ao vivo, porque vinham nos dizer. Sentimos, bem de perto a solidariedade e o apoio da sociedade que vinha nos abraçar e nos dar apoio moral para resistir nesta luta’.
Wadson destacou que essa vitória não teria acontecido se a categoria não estivesse unida, harmoniosa e com disposição de luta. Além disso, segundo o jornalista, sem o apoio também das famílias, da CUT, Fenaj, do SindJornal e de outros sindicatos a resistência seria impossível.
A secretária de Mobilização e Organização do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (SindJornal), Emanuelle de Araújo Vanderlei, conhecida como Manu, também destacou o apoio da sociedade e do conjunto dos trabalhadores que não só apoiaram, mas foram os pilares de força para a resistência da categoria.
’O sindicato está orgulhoso e confiante na unidade da categoria, que muitas vezes pareceu desmobilizada, mas demos a prova de que a classe trabalhadora está cada vez mais forte’, afirmou Manu, que também destacou o fortalecimento do sindicato como outro legado da greve.
’A categoria entendeu que precisa de um referência e apoio, e é o sindicato que tem este papel, porque a luta é coletiva e uma entidade que representa a categoria unifica a luta. E só conseguimos resistir a esses nove dias por isso. Se não fosse o apoio da CUT, da FENAJ, da sociedade e de outros sindicatos não teríamos resistido’, afirmou a dirigente do Sindjornal.
’A CUT e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), não só apoiaram como estiveram na luta desde o começo, dando suporte, auxilio e articulando com outros sindicatos. As duas entidades foram nossas referências e diretrizes do começo até o final. A unidade entre sindicato, Federação e Central também foram fundamentais neste processo da luta pelos direitos da classe trabalhadora’, disse Manu, rouca e emocionada.
A greve teve diariamente o apoio dos artistas alagoanos, das famílias dos jornalistas, de pessoas famosas como a jogadora de futebol feminino Marta e o jornalista José Trajano. Também teve apoio de empresas que forneceram água, alimentos, brinquedos e comida. Além de parlamentares a níveis estadual e federal.
Segundo Manu, os deputados locais se comprometeram a realizar um debate sobre a categoria nos próximos dias.
Para o secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, que acompanhou diariamente a greve dos jornalistas de Alagoas, essa vitória é uma vitória da classe trabalhadora.
’A vitória dos jornalistas de Alagoas mostrou que a luta e a greve são o caminho para a defesa dos direitos. Vencemos uma proposta patronal que pretendia reduzir os salários em 40% e conquistamos reposição de 3%’ afirmou Roni, que completou: ’essa luta fortaleceu os trabalhadores alagoanos para outras batalhas’.
Dia decisivo
O julgamento do dissídio, que resultou positivamente na luta, estava marcado para as 11h, mas a categoria acampou em frente ao TRT a partir das 7 horas da manhã para acompanhar a decisão. Uma parte expressiva dos trabalhadores entrou na audiência e, segundo a presidenta da CUT, Rilda Alves, a emoção era forte a cada voto.
’Foi uma decisão histórica não só para os jornalistas de Alagoas, mas para toda a classe trabalhadora. Porque se essa proposta fosse aprovada poderia ter aberto um precedente de redução de salários em nível nacional e isso seria um retrocesso imensurável’, afirmou Rilda.
A presidenta da FENAJ, Maria José Braga, a Zequinha, concorda com Rilda e disse que o Brasil estava de olhos voltados a esta situação dos jornalistas de Alagoas, criada pelos empresários e que poderia ser referência para outras decisões.
’Felizmente o TRT de Alagoas demonstrou sensibilidade e julgou que a redução é inconstitucional e vai agora vai servir positivamente de parâmetro para o resto do Brasil. Foi uma vitória dos jornalistas de Alagoas que se mobilizaram e conquistaram o apoio do povo, porque demonstraram garra, coerência e disposição de luta para garantir salários dignos aos jornalistas’, disse Zequinha.
Rilda lembrou que o parecer contrário à redução salarial do Ministério Público do Trabalho (MPT), divulgado na terça-feira (2), foi fundamental para a vitória. A dirigente contou que o trabalho da CUT e de outros sindicatos em dialogar com membros da Justiça do Trabalho nos dias anteriores ao julgamento também fez toda diferença.
’Há uma sensação de que as empresas irão recorrer, mas reduzir salários eles [os empresários] não vão conseguir porque ficou claro na decisão a inconstitucionalidade desta proposta. Além disso, que não ousem duvidar do poder de luta da classe trabalhadora, porque se precisar cruzar os braços e lutar por direitos outra vez não pensaremos duas vezes’, destacou a presidenta da CUT Alagoas.
Lute como um jornalista
A hashtag #LuteComoUmJornalista chegou a ficar em primeiro lugar nos Trends Topics do Twitter nesta quarta.
Muitos jornalistas renomados, famosos e até os jornalistas em greve se posicionaram nas redes sociais a favor da luta da categoria.
Apesar da origem da TAG ser referente a perseguição do juiz Sérgio Moro ao jornalista do Intercept Brasil, Glenn Greenwald, a pauta dos jornalistas de Alagoas também foi destaque.
Publicado: 03 Julho, 2019 - 17h24 | Última modificação: 03 Julho, 2019 - 17h33
Escrito por: Érica Aragão
No nono dia de greve contra a redução de 40% no piso salarial, os jornalistas e as jornalistas de Alagoas aprovaram, por unanimidade, encerrar a paralisação nesta quarta-feira (2) e voltar aos trabalhos nesta quinta-feira (3).
A decisão foi tomada em assembleia, em frente ao Tribunal Regional do Trabalho (TRT), onde a categoria permanecia acampada desde as primeiras horas do dia para esperar o resultado do julgamento do dissídio, que incluía a pauta da redução salarial, proposta pelas três maiores empresas de comunicação do estado.
O TRT decidiu negar a proposta das TVs Gazeta (Rede Globo), Pajuçara (Rede Record) e Ponta Verde (SBT) de reduzir o valor do piso salarial dos jornalistas em 40%, e ainda afirmou que ela é inconstitucional e vergonhosa. A Justiça do Trabalho decidiu também pelo aumento do piso da categoria em 3%. Com a decisão unânime dos desembargadores, o piso salarial passa a ser de R$ 3.672,22.
Além disso, os dias de greve não serão descontados e a categoria ainda conquistou uma estabilidade salarial por 90 dias. Caso a empresa mande alguém embora neste período, o jornalista ou a jornalista terá direito a receber três meses de salários.
’Voltamos a trabalhar amanhã com a mesma garra que antes ou até mais animados, vestindo a camisa das empresas que trabalhamos. Os patrões se uniram para cortar nossos salários e os trabalhadores se uniram para dizer não ao corte salarial e vencemos a batalha’, disse Wadson Correia, repórter da TV Ponta Verde, afiliada ao SBT.
Segundo o repórter de Alagoas, ’o que doeu nesses nove dias de greve é que eu não pude noticiar esta nossa luta, mas, ao mesmo tempo, ao andar nas ruas de Maceió [capital de Alagoas] durante os protestos contra a redução salarial pude perceber como a população sentiu falta dos noticiários ao vivo, porque vinham nos dizer. Sentimos, bem de perto a solidariedade e o apoio da sociedade que vinha nos abraçar e nos dar apoio moral para resistir nesta luta’.
Wadson destacou que essa vitória não teria acontecido se a categoria não estivesse unida, harmoniosa e com disposição de luta. Além disso, segundo o jornalista, sem o apoio também das famílias, da CUT, Fenaj, do SindJornal e de outros sindicatos a resistência seria impossível.
A secretária de Mobilização e Organização do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas (SindJornal), Emanuelle de Araújo Vanderlei, conhecida como Manu, também destacou o apoio da sociedade e do conjunto dos trabalhadores que não só apoiaram, mas foram os pilares de força para a resistência da categoria.
’O sindicato está orgulhoso e confiante na unidade da categoria, que muitas vezes pareceu desmobilizada, mas demos a prova de que a classe trabalhadora está cada vez mais forte’, afirmou Manu, que também destacou o fortalecimento do sindicato como outro legado da greve.
’A categoria entendeu que precisa de um referência e apoio, e é o sindicato que tem este papel, porque a luta é coletiva e uma entidade que representa a categoria unifica a luta. E só conseguimos resistir a esses nove dias por isso. Se não fosse o apoio da CUT, da FENAJ, da sociedade e de outros sindicatos não teríamos resistido’, afirmou a dirigente do Sindjornal.
’A CUT e a Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), não só apoiaram como estiveram na luta desde o começo, dando suporte, auxilio e articulando com outros sindicatos. As duas entidades foram nossas referências e diretrizes do começo até o final. A unidade entre sindicato, Federação e Central também foram fundamentais neste processo da luta pelos direitos da classe trabalhadora’, disse Manu, rouca e emocionada.
A greve teve diariamente o apoio dos artistas alagoanos, das famílias dos jornalistas, de pessoas famosas como a jogadora de futebol feminino Marta e o jornalista José Trajano. Também teve apoio de empresas que forneceram água, alimentos, brinquedos e comida. Além de parlamentares a níveis estadual e federal.
Segundo Manu, os deputados locais se comprometeram a realizar um debate sobre a categoria nos próximos dias.
Para o secretário de Comunicação da CUT, Roni Barbosa, que acompanhou diariamente a greve dos jornalistas de Alagoas, essa vitória é uma vitória da classe trabalhadora.
’A vitória dos jornalistas de Alagoas mostrou que a luta e a greve são o caminho para a defesa dos direitos. Vencemos uma proposta patronal que pretendia reduzir os salários em 40% e conquistamos reposição de 3%’ afirmou Roni, que completou: ’essa luta fortaleceu os trabalhadores alagoanos para outras batalhas’.
Dia decisivo
O julgamento do dissídio, que resultou positivamente na luta, estava marcado para as 11h, mas a categoria acampou em frente ao TRT a partir das 7 horas da manhã para acompanhar a decisão. Uma parte expressiva dos trabalhadores entrou na audiência e, segundo a presidenta da CUT, Rilda Alves, a emoção era forte a cada voto.
’Foi uma decisão histórica não só para os jornalistas de Alagoas, mas para toda a classe trabalhadora. Porque se essa proposta fosse aprovada poderia ter aberto um precedente de redução de salários em nível nacional e isso seria um retrocesso imensurável’, afirmou Rilda.
A presidenta da FENAJ, Maria José Braga, a Zequinha, concorda com Rilda e disse que o Brasil estava de olhos voltados a esta situação dos jornalistas de Alagoas, criada pelos empresários e que poderia ser referência para outras decisões.
’Felizmente o TRT de Alagoas demonstrou sensibilidade e julgou que a redução é inconstitucional e vai agora vai servir positivamente de parâmetro para o resto do Brasil. Foi uma vitória dos jornalistas de Alagoas que se mobilizaram e conquistaram o apoio do povo, porque demonstraram garra, coerência e disposição de luta para garantir salários dignos aos jornalistas’, disse Zequinha.
Rilda lembrou que o parecer contrário à redução salarial do Ministério Público do Trabalho (MPT), divulgado na terça-feira (2), foi fundamental para a vitória. A dirigente contou que o trabalho da CUT e de outros sindicatos em dialogar com membros da Justiça do Trabalho nos dias anteriores ao julgamento também fez toda diferença.
’Há uma sensação de que as empresas irão recorrer, mas reduzir salários eles [os empresários] não vão conseguir porque ficou claro na decisão a inconstitucionalidade desta proposta. Além disso, que não ousem duvidar do poder de luta da classe trabalhadora, porque se precisar cruzar os braços e lutar por direitos outra vez não pensaremos duas vezes’, destacou a presidenta da CUT Alagoas.
Lute como um jornalista
A hashtag #LuteComoUmJornalista chegou a ficar em primeiro lugar nos Trends Topics do Twitter nesta quarta.
Muitos jornalistas renomados, famosos e até os jornalistas em greve se posicionaram nas redes sociais a favor da luta da categoria.
Apesar da origem da TAG ser referente a perseguição do juiz Sérgio Moro ao jornalista do Intercept Brasil, Glenn Greenwald, a pauta dos jornalistas de Alagoas também foi destaque.
Comentários
Postar um comentário