Governo quer usar dinheiro parado do PIS/Pasep para reduzir rombo fiscal
O
governo trabalha para enviar ao Congresso uma proposta para que
recursos do PIS/Pasep não sacados pelos trabalhadores sejam usados pelo
Tesouro Nacional. Na Folha de S.Paulo
O objetivo é aliviar a situação das
contas públicas e, assim, evitar novos cortes de recursos em meio à
restrição fiscal do país.
O governo pretende usar o dinheiro
ainda neste ano e, para isso, a equipe econômica vê como o instrumento
mais provável uma medida provisória a ser enviada ao Congresso.
Antes de recolher os recursos à conta
do Tesouro, o governo planeja lançar uma campanha publicitária para
incentivar as pessoas a sacarem o dinheiro a quem têm direito.
Hoje parados em bancos públicos, os
recursos poderiam ajudar a reaquecer a economia. Por isso, o valor a ser
obtido pelo Tesouro depende do volume de retirada.
O secretário especial de Fazenda do
Ministério da Economia, Waldery Rodrigues, já chegou a afirmar que R$ 22
bilhões poderiam ser injetados na economia com as ações de estímulo aos
saques do PIS/Pasep.
“Esses detentores não estão usando, é
um jogo de perde-perde. Haverá uma campanha intensa de divulgação para
entregar o dinheiro a quem de fato pertence”, disse recentemente em
entrevista.
No entanto, o Ministério da Economia
agora avalia que a maior parte dos recursos (até R$ 20 bilhões, de
acordo com as estimativas iniciais) pode ficar parada mesmo após as
ações em favor do resgate.
O diagnóstico é baseado em experiências
frustradas anteriormente. Tentada durante o governo Michel Temer, a
política de estímulo aos saques do PIS/Pasep também teve resultados
abaixo do esperado. Por enquanto, a equipe econômica tem sinalizado que a
medida se daria após a aprovação da reforma da Previdência.
Entre economistas, o porquê de os recursos do PIS/Pasep não serem sacados é de difícil explicação.
O PIS é um abono pago aos trabalhadores
da iniciativa privada administrado pela Caixa Econômica Federal. O
Pasep é pago a servidores públicos por meio do Banco do Brasil.
A avaliação é que muitos trabalhadores
nem sabem que têm o dinheiro guardado. Nem os titulares nem seus
herdeiros aparecem para buscar os recursos em grande parte dos casos e,
por isso, o capital acaba ficando “sem dono”.
Ao planejar o uso dos recursos, o
Ministério da Economia repete um tipo de artifício fiscal semelhante ao
adotado por governos anteriores.
Em 2017, a equipe de Temer usou como
receitas precatórios (pagamentos feitos por órgãos públicos após
sentença judicial) parados em bancos públicos. O governo Fernando
Henrique Cardoso conseguiu aprovar uma lei no fim dos anos 1990 que
autorizava o governo a resgatar recursos da poupança não movimentados.
Especialistas ouvidos pela reportagem
consideram que a medida pode ser polêmica e que não resolve o problema
fiscal do governo. Apesar disso, adotam um tom flexível ao ponderar que
os contingenciamentos têm sido grandes e que a iniciativa pode dar
alívio à máquina pública.
O ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que as ações ligadas ao tema seriam lançadas apenas após as reformas.
“Vamos liberar PIS/Pasep, FGTS, mas
assim que saírem as reformas. Se abre essas torneiras sem as mudanças
fundamentais, é o voo da galinha”, afirmou há cerca de duas semanas.
De qualquer forma, obter recursos do
PIS/Pasep é uma tentativa do governo de buscar receitas em meio ao
cenário de maior restrição fiscal neste ano principalmente pelos
sucessivos cortes nas projeções para o crescimento da economia.
Todo o Orçamento de 2019 foi elaborado
no ano passado considerando um crescimento de 2,5% para o PIB (Produto
Interno Bruto). Em março deste ano, o governo baixou a estimativa para
2,2%. Em maio, para 1,6%.
Especialistas continuam reduzindo as previsões e, ontem, a projeção do mercado baixou para 1%.
Como o PIB é o principal parâmetro para
o cálculo da receita federal estimada no ano, o governo vê dificuldades
para cumprir a meta de resultado fiscal.
Ela já estabelece um déficit de até R$
139 bilhões para 2019, mas a equipe econômica se viu obrigada a fazer
cortes orçamentários na tentativa de deixar o resultado dentro do
esperado.
Os cortes foram anunciados em março e
alcançaram R$ 30 bilhões. Na Educação, houve protestos. Mesmo com o
esforço para uma reversão parcial no contingenciamento, a pasta continua
com um bloqueio de R$ 5,8 bilhões.
Outras grandes receitas esperadas pelo
governo podem não se concretizar. O principal exemplo é a entrada de
recursos com o leilão de excedentes da cessão onerosa.
Os R$ 106 bilhões a serem pagos pelas
petroleiras vencedoras da disputa amenizariam o déficit primário, mas o
secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, reconheceu a possível
frustração de receitas com o processo.
“Basta uma judicialização e atrasar em 15 dias que o pagamento entrará em janeiro”, disse há cerca de 2 meses.
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