Advogados Tecnoestressados


Se a tecnologia é criada para nos tornar mais produtivos, por que ainda trabalhamos tanto?

Ouso dizer que a produtividade dos advogados é diretamente proporcional a sua inteligência emocional e não, necessariamente, aos aplicativos que usamos, isso revela uma grande contradição.

Será que atender uma ligação, enquanto registra um andamento processual e protocola uma petição no PJE, é a melhor forma de cumprir as tarefas no dia a dia?

Estudos demonstram que a má gestão de tarefas pode comprometer a produtividade na advocacia, justamente porque a dinâmica cognitiva envolvida em uma atividade é bem diferente do que imaginamos.

Para muitos, o fato de responder um e-mail ou até dar uma checada no whatsApp não gera grande impacto, mas o que poucos sabem é que cada vez que o nosso cérebro muda de atividade, ele demora cerca de 25 minutos para retomar o mesmo nível de concentração anterior.

Por isso, embora as notificações pareçam inofensivas, esses pequenos lembretes quebram os ciclos de concentração, além de aumentarem sobremaneira os níveis de cortisol e adrenalina no sangue, haja vista que o nosso corpo entende que deve estar em alerta a todo momento.

Segundo pesquisa realizada em mais de quatro mil postos de trabalho pela União Geral dos Trabalhadores ( UGT), 73% dos profissionais sofrem de stress, doença que, na maioria das vezes, é causada pelo acúmulo tarefas e in formações não processadas, que se transformam em urgências devido a má gestão de prioridade.

Note que o stress, além de afetar a saúde dos advogados, também interfere nas relações sociais, ferramenta essencial para a prospecção de clientes.

Também é fácil perceber que muitas equipes jurídicas executam suas atividades com tensão e irritabilidade.

Não sei se vocês sabem, mas existe uma doença recente chamada de "tecnoestresse, a doença da conectividade" e engloba diversas síndromes causadas pelo uso contínuo da tecnologia.

Há cerca de 10 anos, os problemas de saúde relacionados à tecnologia mudaram da área física para a mental. Os advogados começaram a sofrer todos os tipos de síndromes psicológicas, desde a chamada "nomofobia" (o temor de ficar sem acesso a um smartphone) até síndrome de vibrações fantasmas (quando você pensa ter sentido o celular vibrar, mas o aparelho nem está lá), passando por insônia causada pelas telas dos smartphones, sem contar com a compulsão pelo celular como primeiro ato do dia ao abrir os olhos, selfite (necessidade compulsiva de publicar selfies) e todos os outros problemas ligados ao tecnoestresse.

Com o passar do tempo, o tecnoestresse está cada vez mais relacionado à compulsão. Os advogados agora sentem uma ansiedade forte quando não podem acessar suas notificações, temendo as mensagens não vistas, o que traduz o medo de perder algo, de ficar de fora e de não pertencer.

Uma pesquisa sobre o tecnoestresse foi realizada com 1.200 pessoas, nas cidades de Porto Alegre e São Paulo. "Foram identificadas as principais causas e os sintomas do problema nos usuários. Desses, 60% declararam ter alguma sequela devido ao estresse, sejam sintomas físicos, emocionais ou comportamentais", revela Ana Maria Rossi, presidente da International Stress Manegement Association (ISMA-BR).

Outro sintoma bastante citado na pesquisa foi o cansaço, mas o do tipo que não vai embora, ou cansaço crônico, que afetava 63% das pessoas. Já os distúrbios do sono foram citados por 35% deles, com descrição de sono agitado, dificuldade para dormir ou dormir um pouquinho e já acordar.

Enquanto estão conectados, os advogados checam de maneira compulsiva todos os fluxos de comunicação e sentem o dever de responder à maioria das solicitações, sendo a queixa sobre cobrança de clientes, a maior reclamação entre os causídicos.

Estamos nos sentindo mais incapazes do que nunca quando não acompanhamos, ao mesmo tempo, todas as séries, informativos, vídeos e notícias. Estamos viciados...quantas abas ou janelas estão abertas agora que você me lê?

Ao fim de um dia de trabalho, os advogados estão exaustos, sentindo que trabalharam duro, mas que estão devendo algo...

Acontece que boa parte desse cansaço mental é causado pelo excesso de informações em processamento.

A carga intelectual na advocacia é muito superior aos níveis saudáveis de um ser humano, e isso se reflete nocivamente nos pensamentos, nas emoções e nos comportamentos.

Como sintomas emocionais do tecnoestresse, o mais citado entre as pesquisas, foi a ansiedade, que afetava 83% dos indivíduos; 81% se queixou de angústia e 67% de falta de concentração.

O que acontece é que a maioria dos indivíduos escolhe mecanismos de defesa para lidar com os sintomas do stress, e alguns desses mecanismos são positivos, como: atividades físicas, hobby, trabalhos voluntários, meditações, alimentação saudável.

Mas, infelizmente, muitos advogados se engajam em comportamentos autodestrutivos. Na pesquisa, 53% das pessoas usavam o álcool, drogas e alimentos ricos em açúcar e gordura para se anestesiarem.

No passado, os advogados conseguiam focar nos prazos enquanto estavam no trabalho, e na vida pessoal quando estavam em casa. Hoje, os smartphones, as redes sociais e os apps de mensagens mantem um fluxo constante de mensagens durante as 24 horas, e isso tem um preço, o alto custo de sermos considerados a 4° profissão mais estressante do mundo.

O Brasil tem um órgão que mede o nível de stress do brasileiro, o ISMA-BR, que está medindo, junto a outros órgãos mundiais o nível do tecnostress.

Estressamos-nos porque o nosso celular demora 20 segundos para se comunicar com alguma localidade do outro lado do mundo, ou 10 segundos para carregar uma foto.

Queremos o entendimento instantâneo, sem ler os manuais de funcionamento. Essa tensão toda chamamos de tecnostress.

EM RESUMO: SINTOMAS DO ADVOGADO TECNOESTRESSADO

Físicos

Dores musculares nas costas, nos ombros, no pescoço, nos braços

Dor de cabeça

Disfunções do sono (insônia, sono agitado, pesadelos)

Falta de concentração

Emocionais

Frustração

Ansiedade

Sarcasmo

Raiva

Irritação

Comportamentais

Isolamento social

Disfunção sexual (perda de libido)

Falta de iniciativa (passividade)

POSSÍVEIS SOLUÇÕES

Inteligência Emocional - As distrações tecnológicas tem sido subterfúgios para nossos dramas internos, desse modo, lidar inteligentemente com as emoções é o caminho mais rápido para a conquista da autonomia tecnológica, ao passo que criamos controle sobre nossos hábitos de consumo de informação.

Gestão de Rotina - O nosso dia é feito apenas de vinte e quatro horas. Vivemos em média 92 anos (IBGE 2018), e desses 92 anos, dormirmos em média 8 horas por dia, desse modo, passamos 30 anos (1/3 de vida) da nossa existência dormindo.

Agora nos restam 16 horas por dia ou 60 anos de existência nesse planeta, pois bem...Se dedicarmos 8 horas das 16 horas restantes VIVENDO uma vida distraída pela tecnologia, então nos sobrarão 8 horas.

Se passarmos as 8 horas finais reclamando sobre essa "VIDA DISTRAIDA E ESTRESSANTE" que escolhemos viver nas 8 horas anteriores, então podemos concluir que muitos já estão MORTOS.

E se você ainda não se considera um morto vivo, então pode ter disposição para usar a tecnologia a seu favor, abrindo espaços na agenda que te permitam socializar, ter melhores momentos com seus familiares, estudar concentradamente e cuidar de si.

Agora me resonda: você acredita que é possível viver uma advocacia com qualidade de vida?

Me conta nos comentários como você tem feito para lidar com o tecnostress.

Comentários

Postagens mais visitadas