Vitória da insegurança jurídica

Com seis meses de vigência da lei trabalhista celerada os jornalões 
trombetearam que o número de ações caiu 40%. Este parece ser o 
grande resultado visível da iniquidade da lei com as barreiras criadas 
por ela ao acesso à Justiça do Trabalho.
O agregado dos números divulgados merece uma análise mais criteriosa
 que leve em conta o resultado das ações julgadas (houve um aumento 
do valor médio das indenizações) e os recursos às outras instâncias (houve um aumento
de recursos às instâncias superiores) e não apenas o número de novas ações dificultadas 
pelas regras restritivas e encarecedoras.
O presidente da Anamatra, Guilherme Feliciano, declarou à Folha em matéria de 
William Castanho que “a reforma é como um dique. Em algum momento ele romperá
 e o volume dos processos e a insatisfação dos trabalhadores voltarão a fluir”. Ou seja,
 embora tendo diminuído provisoriamente o número de ações, a insegurança jurídica 
continuará aumentando.
Mas, consideradas três outras maldades da lei – demissões por acordo, contratações 
com contrato intermitente e contrações para trabalho parcial – os “resultados” da lei 
são pífios, como demonstra a reportagem de Fábio Pupo no Valor.
No primeiro caso, as demissões por acordos passaram de exíguos 6 mil casos para 
14 mil em seis meses. As contratações de trabalho intermitente tiveram um saldo no 
mesmo período de 17 mil vagas, e as contratações para trabalho parcial desceram 
continuadamente e geraram apenas 11 mil postos de trabalho.
Portanto, no que diz respeito à criação de empregos ou às demissões negociadas 
(mesmo levando-se em conta a precarização decorrente das novas modalidades) os 
efeitos da lei foram irrisórios quando reconhecemos o escandaloso número de 30 
milhões de brasileiros e brasileiras desempregados, desalentados ou subutilizados no
mercado de trabalho.
No balanço numérico dos efeitos da lei celerada com seis meses de vigência avulta 
apenas a dificuldade de acesso à Justiça do Trabalho, já que a lei praticamente não 
facilitou a criação de emprego. Uma trágica vitória da insegurança jurídica.

João Guilherme Vargas Netto
É membro do corpo técnico do Diap e consultor sindical de diversas entidades de trabalhadores
em São Paulo
 

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