Sindicatos tentam se blindar contra reforma
FONTE: jornal O Estado de S. Paulo
Entidades começaram a incluir nos acordos com as empresas cláusulas que estabelecem que toda mudança precisa ser negociada
Trabalhadores com data-base neste fim de ano, período em que precisam
negociar com as empresas índices de reajustes e benefícios sociais,
tentam incluir nos acordos uma ‘cláusula de salvaguarda’ para se
protegerem de normas da reforma trabalhista que consideram prejudiciais
em relação ao que vigora atualmente.
O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC foi o primeiro a garantir essa
cláusula nas negociações com empresas de sua base na semana passada. “A
cláusula estabelece que qualquer mudança precisa ser negociada com o
sindicato”, diz Wagner Santana, presidente da entidade. “É uma espécie
de vacina para evitar medidas que prejudiquem os trabalhadores.”
Até sexta-feira, dos 73 mil metalúrgicos do ABC, 59 mil trabalham em
empresas que concordaram com a medida ou já têm acordo para os próximos
dois anos com esse tipo de garantia, como as montadoras. “Nas empresas
em que não há acordo, os trabalhadores estão parando a produção e muitas
já voltaram atrás”, informa o sindicalista.
Para José Silvestre, coordenador de relações sindicais do Departamento
Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), com a
inflação em baixa as negociações neste fim de ano se voltam mais para
garantias contra itens da reforma do que aumentos salariais.
Na base dos metalúrgicos de São Paulo, as empresas ainda estão
inseguras em relação a posições divulgadas recentemente por membros do
Judiciário sobre a constitucionalidade de pontos da reforma e aguardam
para iniciar negociações, disse Miguel Torres, presidente do Sindicato
dos Metalúrgicos de São Paulo. A entidade representa 150 mil
trabalhadores dos quais 27% são filiados.
“Também estamos trabalhando com a cláusula de salvaguarda, mas as empresas por enquanto não querem falar disso”, afirma.
Os químicos de São Paulo conseguiram manter, em acordo fechado na
sexta-feira, as cláusulas sociais previstas em convenções anteriores,
como proibição do trabalho de gestantes em locais insalubres. Também
conquistaram repasse integral da inflação para os 150 mil trabalhadores
da base, segundo Sergio Luiz Leite, presidente da Federação dos
Trabalhadores nas Indústrias Químicas e Farmacêuticas do Estado de São
Paulo (Fequimfar).
Por precaução, os comerciários paulistas deixaram para fevereiro as
discussões com as empresas, quando esperam já haver maior entendimento
sobre a aplicação da reforma. A data-base dos 400 mil trabalhadores do
setor foi em setembro.
Sobrevivência. A maior preocupação do presidente do Sindicato dos
Comerciários de São Paulo, Ricardo Patah, é com a manutenção dos
serviços prestados pela entidade após o fim da cobrança do imposto
sindical. “Hoje temos orçamento de R$ 90 milhões, mas, sem o imposto,
esse valor vai cair para R$ 20 milhões e teremos de adaptar estruturas e
serviços.”
Segundo ele, o quadro de 600 funcionários será reduzido em 15% e a
qualidade dos serviços prestados mensalmente a 20 mil trabalhadores no
complexo médico e odontológico, que conta inclusive com equipamento para
mamografia, poderá cair. Entre as medidas que serão adotadas para
melhorar a arrecadação da entidade, que tem 52 mil associados, está o
aluguel de quatro dos 13 andares do prédio que abriga o sindicato, no
centro de São Paulo, e a terceirização ou venda do clube de campo em
Cotia (SP).
Nesta semana, Patah, que também preside a União Geral dos Trabalhadores
(UGT), estará em Brasília para retomar conversas com o presidente
Michel Temer sobre medidas alternativas à cobrança do imposto sindical,
entre quais uma taxa substituta de contribuição negocial.
Wagner Santana diz que também haverá corte de custos e de pessoal na
sede do sindicato em São Bernardo do Campo, e uma campanha mais forte de
sindicalização. Hoje, dos 73 mil trabalhadores da base, 35 mil são
filiados. A entidade continuará cobrando taxa negocial de 4% de um
salário mensal de todos os trabalhadores, valor que é devolvido aos
sócios. Os metalúrgicos de São Paulo também farão campanha mais forte de
sindicalização e avaliam até propaganda na mídia, afirma Miguel Torres.
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