Seminário Nacional CNTC reúne mais de 700 pessoas para discutir os impactos da Reforma Trabalhista
Não existe Estado democrático, sem
Direito do Trabalho e sem sindicalismo, diz o Ministro do Tribunal
Superior do Trabalho (TST), Mauricio Godinho Delgado, no Seminário
Nacional CNTC – Reforma Trabalhista. O evento reuniu, nesta quarta (4) e
quinta-feira (5), mais de 700 pessoas entre dirigentes sindicais,
advogados Trabalhistas, estudantes de Direito, representantes do
Ministério Público do Trabalho e Magistrados do Trabalho para discutir
os impactos da lei e ações para o seu enfrentamento.
Godinho explica que a Lei 13.467,
conhecida como Reforma Trabalhista, suprime direitos garantidos. “Temos
que adotar uma técnica científica para extrair da legislação um
dispositivo mais civilizado usando três métodos: direito individual,
coletivo e processual. Não se pode extrair da lei o seu pior resultado”.
A Reforma Trabalhista traz mais de 100
modificações à Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT), que entrarão em
vigor em 11 de novembro. Algumas dessas alterações afetam a demissão do
trabalhador.
“Pela antiga norma eram admitidas três
formas de desligamento: quando o trabalhador pedia para sair, a demissão
por justa causa e a demissão imotivada. A nova legislação traz uma
inovação: a possibilidade de demissão consensual, ou seja, um acordo
entre o empregador e o empregado. Nesse caso, o patrão paga multa de 20%
em relação ao valor depositado no Fundo de Garantia do Tempo de Serviço
(FGTS) e o empregado pode sacar até 80% do Fundo, mas perde o direito
ao seguro-desemprego. Difícil de compreender essa interpretação da lei,
isso favorece só aos bancos”, destacou Godinho.
O Ministro do TST disse ainda que o
desafio do sindicalismo brasileiro é barrar a Lei 13.467 que pode
transformar o sindicado em adversário do trabalhador. “A lei prevê a
redução de direitos e os sindicatos terão que se unir à categoria para
se impor, impedir o retrocesso e não servir ao capital. A lei não tem
interesse em aperfeiçoar o sistema, mas de enfraquecer o movimento
sindical com o fim do custeio”.
A Reforma foi anunciada com efeitos de
geração de empregos, mas, segundo Paulo Joarês Vieira, Procurador
Regional do Trabalho no Rio Grande do Sul, a lei não vai gerar um só
emprego. “As vagas existentes vão se transformar em contratos menos
protegidos quando se estabelece a terceirização na atividade fim e a
jornada intermitente”.
Nesse momento de ruptura democrática é
preciso decidir de que lado se quer ficar, destacou o Juiz do Trabalho
de Jundiaí (SP), Jorge Souto Maior. “A lei patrocinada pelos grandes
conglomerados econômicos foi elaborada entre quatro paredes para deixar a
classe trabalhadora de joelhos. Precisamos fazer uma autocritica por
não perceber o momento histórico e também não ter lutado mais para
defender a democracia do país”, afirmou. O magistrado disse que a
Reforma Trabalhista não pode ser encarada com naturalidade, tendo em
vista que o processo foi aprovado em tempo recorde e sem debates com a
sociedade.
Preservação das relações do trabalho
Sindicalistas e advogados terão um papel
fundamental na aplicação da Reforma nas leis trabalhistas. O presidente
da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT), Ângelo
Fabiano Farias da Costa, condena a Lei 13.467 e disse que a medida
aprovada no Congresso Nacional é uma fraude para o mercado de trabalho.
“Essa Reforma traz uma série de situações que vão impactar o nosso dia a
dia. Ela apresenta inúmeros obstáculos para o trabalhador acessar à
justiça”.
O procurador denunciou que, mesmo o
Brasil ocupando o quarto lugar no mundo com cerca de 700 mil e mais de 3
mil mortes por ano por acidente de trabalho, esse índice ficará ainda
mais crítico com a Reforma em vigor.
De acordo com Ângelo Costa, a lei não
tem medida de prevenção de risco e ainda limita em valores baixos a
indenização que a empresa terá que pagar em caso de acidente. “A lei
busca limitar indenizações tarifando a vida humana a partir do salário
contratual do trabalhador. Em nenhum momento ela traz qualquer tipo de
salvaguarda ou de garantia para a manutenção daqueles trabalhadores que
hoje estão empregados. Ao contrário, ela traz um verdadeiro cardápio de
contratos precários”.
Para o presidente da Associação Nacional
dos Magistrados da Justiça do Trabalho (ANAMATRA), Guilherme Guimarães
Feliciano, há inconstitucionalidades e infelicidades na Reforma
Trabalhista. “A lei pode ser infeliz, mas não se pode legislar de forma
inconstitucional ferindo as convenções internacionais como as que foram
aprovadas no Congresso Nacional e promulgada pelo poder executivo”,
afirmou.
Desigualdade
O presidente da Associação Brasileira de
Advogados Trabalhistas (ABRAT), Roberto Parahyba Arruda Pinto, explicou
que a Reforma Trabalhista vai aumentar as desigualdade no Brasil e
disse ainda que a terceirização vai precarizar a mão de obra e aumentar o
risco de acidentes de trabalho. “A terceirização promoverá a dispersão
dos trabalhadores o que vai dificultar, ainda mais, a organização
sindical”.
Presidente da Corte Interamericana de
Direitos Humanos, Roberto de Figueiredo Caldas, criticou a desigualdade
na distribuição de renda no Brasil. “Os sindicalistas devem lutar pelo
direito humano ao trabalho, tendo em vista que a América Latina, apesar
de não ser a região mais pobre do planeta é a mais desigual”, alertou.
União
O presidente da Confederação Nacional
dos Trabalhadores no Comércio (CNTC), Levi Fernandes Pinto, destacou a
importância do Seminário para os trabalhadores do setor de comercio e
serviços. “Este é um momento histórico para discutir novos rumos do
direito do trabalho. Estamos prontos para lutar, nos manteremos unidos e
fortes na busca e garantia dos direitos trabalhistas.”
Grandes nomes do cenário jurídico
nacional estiveram na CNTC nos dias 4 e 5 de outubro para discutir as
alterações decorrentes da Reforma Trabalhista, avaliando os avanços e
retrocessos e debatendo as ações jurídicas que podem ser utilizadas para
enfrentar a nova lei.
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