Sindicato Luta pelo Sonho de Todos e Não pelo Conforto de Poucos
por Gilmar Duarte
“A revolução dos bichos”, livro escrito
por George Orwell, retrata a realidade de líderes sindicais que se
esquecem dos associados para valorizar seus caprichos. Até que, num
certo momento, os bichos acordam.
Recentemente observei no vidro traseiro
de um táxi comum a propaganda de um aplicativo para chamá-lo. Depois de
tanto embate com o Uber, cada qual buscou uma forma de continuar no
páreo neste mercado acirradíssimo.
Considero louvável esta luta, mas talvez
os líderes da categoria poderiam ter viabilizado soluções mais cedo a
fim de poupar prejuízos.
Nesta semana quero chamar a atenção dos
líderes sindicais, especialmente da categoria empresarial, que em função
do tino empreendedor nato – do qual não sou contra – desejam
ardentemente adquirir imóveis para a sede própria com os recursos
arrecadados dos associados, quando deveria haver outras prioridades.
O que une determinada categoria
empresarial? Estaria ela com dificuldade de construir um imóvel e
junta-se para facilitar a empreitada? Seria este imóvel a sede para
reuniões, um espaço para colocar os negócios ou ainda obter lucro, como o
caso de um shopping (locação)?
A sede pode ser necessária, mas até
quanto é justo gastar? O impacto pode ser diretamente em prejuízos dos
associados, especialmente aqueles que não usufruirão em função da
distância ou outros motivos.
Conheço entidades com sedes tão
magníficas que alguns associados sentem-se indignos de entrar. Conheço
sindicatos nos quais os associados vivem o temor do fim da profissão
devido a evoluções repentinas e suplicam aos deuses uma luz para
permanecer no mercado e garantir o sustento da família.
Conheço líderes destas entidades que
tornam-se insensíveis à base, pois habituaram-se a encontrar-se somente
com pessoas do topo da pirâmide e a julgar depreciativamente os que não
conseguem se destacar.
Conheço “líderes” que almejam manter-se
no poder, sem dar importância ao que pensam os associados e sem
considerar que para a entidade continuar forte é necessário oxigenar, ou
seja, a constante renovação da liderança.
Conheço entidades que em algumas regiões
da mesma base possuem uma estrutura excepcional aos associados, mas as
regionais distantes viram-se com migalhas.
Conheço líderes preocupados com viagens,
mas não com a responsabilidade de reverter tais viagens em benefícios
aos associados que arcam com estes custos. No entanto, conheço líderes
que travam lutas com seus pares para dar aos associados o que precisam e
merecem e por isso muitas vezes são esmagados e jogados para fora da
“elite”.
Quando um sindicato ou associação de
empresários nasce as reuniões nas quais os problemas são discutidos na
esperança de ser vencidos ocorrem em qualquer lugar.
Depois de debater e descobrir os
problemas aparentemente sem solução, se necessário contrata-se um expert
para auxiliá-los, pois o foco não é a entidade, mas o sucesso das
empresas associadas.
A dificuldade em acompanhar as mudanças
atuais não é de poucos associados, mas da imensa maioria. Uma minoria de
empresários astutos, nem sempre com princípios éticos, descobre uma
estratégia para conquistar significativa parcela do mercado, se destaca e
enriquece.
O problema é quando a ampliação da base
ocorre com métodos ardilosos, ou seja, enganando o cliente, burlando a
legislação e dificultando a competente fiscalização. Ao agir assim, essa
minoria prejudica o mercado com serviços enganadores e joga a
qualidade, normalmente o diferencial ofertado pela classe, na sarjeta.
Senhores líderes de associações e
sindicatos: se a entidade que preside planeja grandes somas de
investimento na sede própria, imploro que considere:
– é o desejo dos associados esta sede ou o capricho de alguns?
– a sede beneficiará todos os associados que contribuíram com os recursos?
– a entidade divulga de forma clara o balanço aos associados?
– por que não investir para diminuir a aflição daqueles que contribuíram para acumular os recursos?
– de que vale uma linda sede se a categoria desaparecer?
Aos associados recomendo maior participação, lutar pelos seus direitos, questionar os líderes e seja cético.
Apoiem os bons líderes para que tenham
condições de executar o trabalho e não sejam esmagados pelas velhas
raposas. Oxigenem o sindicato ou associação ao votar em novos
representantes.
A única forma de fazer o sindicato voltar
às origens é acordar, assim como aconteceu com os bichos no romance do
George Orwell. É preciso informar e exigir o que se espera,
verdadeiramente, do sindicato ou associação.
Gilmar Duarte é Contador, diretor do Grupo Dygran, palestrante, autor dos livros “Honorários Contábeis” e “Como Ganhar Dinheiro na Prestação de Serviços” e membro da Copsec do Sescap/PR.
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