Reformas e greve geral são desafios à desanimada equipe de Michel Temer
Conselheiros do presidente têm sinalizado perda de fôlego
Recuos na Previdência garantirão só sobrevida ao sistema
Manifestações podem dar novo ingrediente à crise.
O Planalto terá uma série de testes nos próximos dias: votação das
reformas, greve geral, Lava Jato e as repercussões do depoimento de Lula
ao juiz Moro
Esta é uma semana de 10 dias
Arrefeceram o ânimo, o arrivismo e a pró-atividade dos principais
conselheiros de Michel Temer. O desânimo já contaminou, também, o
próprio Temer. Na última semana um deles mandou às favas quaisquer
cerimônias e deixou aflorar os pruridos da consciência. Perguntou ao
inquilino do Palácio do Jaburu se ele estava à vontade no cargo e se o
caminho trilhado para chegar ao poder, via impeachment, havia sido mesmo
a melhor opção para o grupo político que articulou a deposição de Dilma
Rousseff.
Não se ouviu uma resposta direta na sala, e isso espantou o
interlocutor de Temer. Ato contínuo, a conversa tergiversou para a
necessidade de aprovação “das reformas” que tramitam no Congresso. A
Trabalhista e a da Previdência. O conselheiro insistiu e quis saber se
havia respostas para uma sequência de perguntas metralhadas mais ou
menos assim: “Aprovar reformas para quê? Para quem? Essa agenda é nossa?
E se ela for entregue agora, do jeito que a mídia quer, do jeito que o
mercado quer, o que acontece?” Novo silêncio, nova mudança de rumo no
papo.
As concessões feitas à base governista, cada vez mais esgarçada na
Câmara e totalmente dispersa no Senado, reduziram o texto da reforma da
previdência (que é tíbio e medroso ao não mexer em privilégios centrais
de militares das Forças Armadas, do Poder Judiciário, de policiais civis
e militares nos estados, entre outros) a 57% do impacto financeiro que
inicialmente se imaginava. O cálculo é do núcleo de acompanhamento
econômico do Banco Itaú. Dentro da equipe do Ministério da Fazenda, onde
sorrisos plásticos mal disfarçam a impaciência com a lassidão das
negociações políticas, o prognóstico é menos danoso –estima-se que o
substitutivo do deputado Arthur Maia é ainda 70% da proposta original.
Nos dias em que os auxiliares de Temer, ministros e técnicos, ainda
andavam pelo Palácio do Planalto deslocando ar à medida que avançavam os
passos, falava-se numa reforma “definitiva” da Previdência Social.
Agora, admite-se que o conjunto de mudanças, caso seja aprovado do jeito
que está (e não será, porque o Senado mexerá nelas), assegura uma
sobrevida do sistema previdenciário por mais 10 ou 12 anos sem novas
reformas. Muito barulho por tão pouco num cenário de legitimidade
escassa dos parlamentares e da equipe palaciana.
A reforma trabalhista, que pode ser votada na 4ª feira (26.abr.2017)
diretamente no plenário da Câmara, deverá funcionar como um primeiro
catalisador de insatisfações difusas na sociedade. Até aqui, como as
quase 300 alterações que o relator Rogério Marinho propõe na
Consolidação das Leis do Trabalho ficaram em segundo plano na cobertura
jornalística, embaçadas pela Lava Jato e pela Reforma da Previdência, a
desinformação garantiu o avanço da pauta. Mas no dia em o plenário
recepcionar o projeto haverá intensa mobilização de sindicatos em
Brasília –e eles parecem ter renascido das cinzas a que se haviam
transformado no curso da guerra do impeachment.
A chacina de agricultores em Colniza (Mato Grosso) ampliou para 17 o
número de sem-terras assassinados só em 2017 e catapultou o MST de volta
para o centro das mobilizações populares. Há corpos estendidos na mata
–e quando há corpos há bandeiras. Os segmentos mais populares da Igreja
Católica, desde sempre identificados com o MST, voltaram a dialogar com
alas mais conservadoras e urbanas do clero que estão mobilizadas para o
combate à Reforma da Previdência. É possível que na 4ª feira (26.abr),
sindicatos e movimentos rurais, recebendo apoio de setores da CNBB e de
um movimento cada vez mais capilar na sociedade –o dos sem-teto–
organize na Esplanada dos Ministérios, diante do Congresso Nacional, uma
“solenidade popular” de vigília para a greve geral agendada para a 6ª
feira (28.abr).
A greve geral convocada para o dia 28 recebeu apoio decidido de
professores de escolas particulares do Rio de Janeiro e de São Paulo.
Certamente os sindicatos de professores de escolas privadas de outras
capitais como Belo Horizonte, Brasília, Recife, Salvador, Fortaleza e
Porto Alegre adiram –numa solidariedade impactante para a classe média
que não ocorria desde os anos 1980. Metroviários, motoristas de ônibus e
diversos outros setores da sociedade– em algumas cidades, comerciários
–estão intensa e silenciosamente mobilizados e devem parar 6ª feira. Se a
greve furar o duro bloqueio que há na mídia tradicional, também ela
mobilizada numa espécie de “ordem unida” para evitar chamar atenção para
a convocação de paralisações, a crise política que é agravada e
agravante, ao mesmo tempo, da crise econômica, ganha de vez novo
ingrediente: a rua.
Além de tudo isso, haverá ainda movimentações processuais dentro dos
inquéritos da Lava Jato e, do ponto e vista palaciano, a mais
constrangedora delas é o pedido de informações feito pelo ministro Luiz
Edson Fachin para que o procurador-geral Rodrigo Janot explique por que
não pediu investigações em torno da figura e Michel Temer. Janot, que
ainda embala o sonho de uma nova recondução ao comando da Procuradoria
Geral da República, terá de explicar com todas as letras e sem
tergiversações esses porquês. Tudo se passa em dias que tendem a se
agravar com a busca, já pública, de novo nome para o Ministério da
Justiça: Osmar Serraglio, investigado na Operação Carne Fraca, mimetizou
o nome da espetaculosa ação deflagrada para desbaratar uma quadrilha de
vendedores de facilidades a frigoríficos e é ele mesmo um pedaço fraco
de carne vagando qual zumbi pelos corredores ministeriais. O Planalto
analisa currículos para a cadeira de Serraglio, que vagará.
A semana que começa hoje (24.abr) será a mais longa desse grupo –não
necessariamente a melhor. Ela não se encerrará nem mesmo no 1º de maio,
quando sindicalistas voltam às ruas para fazer cobranças e protestos na
data quase universal do Dia do Trabalho. A agonia só terá fim, com
roteiro ainda incerto, depois do depoimento do ex-presidente Lula em
Curitiba diante do juiz Sérgio Moro. A oitiva está agendada para a tarde
de 3 de maio. Ou será o epílogo de uma quadra sensível para Temer e seu
governo, ou se está escrevendo o prólogo de novos e insondáveis
capítulos da República.
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