Precarização e intensificação do trabalho ampliam casos de LER/Dort
No Dia Internacional de Combate às Lesões por Esforços Repetitivos/ Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho, pesquisadoras da Fundacentro alertam sobre processo produtivo adoecedor
Por ACS/C.R. em 28/02/2017
Em 28 de fevereiro, celebra-se o Dia Internacional de
Combate às LER/Dort (Lesões por Esforços Repetitivos/ Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). A data chama atenção para
este adoecimento que atinge milhões de brasileiros. Segundo a Pesquisa
Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada em 2013, 3.568.095 pessoas
com mais de 18 anos declararam ter recebido diagnóstico médico de
LER/Dort. Esse número corresponde a 2,29% da população estimada pela
pesquisa.
Buscando contribuir para a reflexão sobre esse tema, a
médica Maria Maeno, a psicóloga Daniela Tavares e a ergonomista
Cristiane Queiroz produziram um artigo em que analisam a ocorrência das
LER/Dort, os motivos desse adoecimento e ainda apresentam as
estatísticas da PNS e dos Anuários Estatísticos da Previdência Social
(AEPS), considerando as diferenças dessas bases de dados.
“Se
tomarmos como referência a PNS, segundo a qual mais de 3,5 milhões de
pessoas referiram que tinham tido diagnóstico médico de LER/Dort e o
maior registro dessas afecções pela Previdência Social, de pouco mais de
145 mil em 2008, fica fortemente sugerida uma discrepância muito
grande”, afirmam as pesquisadoras da Fundacentro.
“Embora em
relação às LER/Dort não se tenha feito essa comparação por falta de
dados na PNS sobre o ano de diagnóstico, os dados dos AEPS e os relatos
de trabalhadores, suas entidades sindicais, profissionais de segurança e
saúde no trabalho das empresas nos permitem afirmar que a
subnotificação é significativa”, completam.
Os trabalhadores até
conseguem o diagnóstico médico de tendinites e tenossinovites, por
exemplo, mas a relação com o trabalho, na maioria das vezes, é omitida.
“O Sistema Único de Saúde (SUS), cujos profissionais não têm vínculo com
as empresas, poderia então, atuar de forma efetiva, como preconiza o
protocolo do Ministério da Saúde. No entanto, sabotado pelos que veem na
saúde um excelente meio de lucrar e sem um verdadeiro apoio da
sociedade, o SUS não se constitui em uma rede potente de diagnóstico de
doenças ocupacionais”, apontam.
Quando se encontram incapacitados
para o trabalho, os trabalhadores são encaminhados, geralmente, sem a
emissão de CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) ao INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social).
Intensificação do trabalho
As
LER/Dort ganharam visibilidade nos anos 1990 a partir da integração de
movimentos promovidos pelas entidades sindicais de trabalhadores e da
produção de textos científicos sobre o tema. Nessa época, surgiram os
primeiros protocolos dos então ministérios da Saúde e da Previdência
Social.
Apesar das conquistas normativas, as transformações do
mundo do trabalho levaram a terceirizações, intensificação e ritmo
acelerado de trabalho. Os trabalhadores sofrem com metas inatingíveis,
avaliações de desempenho com repercussões sobre a remuneração,
humilhações, sensação de impotência e assédio moral. As consequências à
saúde vêm dos desgastes físicos e psíquicos a que são submetidos os
trabalhadores.
Neste cenário, os processos produtivos e de
serviços que mantêm a exigência de movimentos repetitivos se destacam na
ocorrência de LER/Dort. Linhas de montagem e embalagem, frigoríficos,
bancos, teleatendimento, entre outros, geram desgaste e ocorrência de
afecções musculoesqueléticas crônicas, incapacitantes e acompanhadas de
sofrimento e transtornos psíquicos.
Mas a intensificação e a
precarização do trabalho atingem todos os setores, inclusive o público.
“No setor público, a diminuição de concursos e aumento de terceirizados,
acompanhados pela invasão da lógica da gestão privada, impõe uma
realidade na qual os trabalhadores enfrentam prescrições inexequíveis,
uma máquina emperrada pela burocracia, um processo de avaliação de
desempenho voltado a punições disciplinares e uma penalização salarial,
sem que se reflita sobre a missão do poder público de garantir os
direitos de cidadania conquistados na Constituição Federal”, alertam as
autoras.
É fundamental para se prevenir esse tipo de adoecimento
que se alterem os fundamentos da gestão e organização do trabalho. O
trabalhador precisa ter autonomia e seus limites respeitados. Seria
necessário trilhar um caminho inverso ao que se vem construindo,
pensando também na construção de políticas públicas e na preservação dos
direitos sociais.
“As reformas trabalhista e previdenciária, ora
em questão no país, trazem apreensões para os segmentos sociais que se
preocupam com o aprofundamento da precarização do mundo do trabalho, com
a fragilização do arcabouço de proteção à saúde do trabalhador, e
consequentemente com o provável aumento do número e gravidade dos
acidentes e doenças relacionadas ao trabalho”, concluem as pesquisadoras
da Fundacentro.
Em 28 de fevereiro, celebra-se o Dia Internacional de
Combate às LER/Dort (Lesões por Esforços Repetitivos/ Distúrbios
Osteomusculares Relacionados ao Trabalho). A data chama atenção para
este adoecimento que atinge milhões de brasileiros. Segundo a Pesquisa
Nacional de Saúde (PNS), realizada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) e divulgada em 2013, 3.568.095 pessoas
com mais de 18 anos declararam ter recebido diagnóstico médico de
LER/Dort. Esse número corresponde a 2,29% da população estimada pela
pesquisa.
Buscando contribuir para a reflexão sobre esse tema, a
médica Maria Maeno, a psicóloga Daniela Tavares e a ergonomista
Cristiane Queiroz produziram um artigo em que analisam a ocorrência das
LER/Dort, os motivos desse adoecimento e ainda apresentam as
estatísticas da PNS e dos Anuários Estatísticos da Previdência Social
(AEPS), considerando as diferenças dessas bases de dados.
“Se
tomarmos como referência a PNS, segundo a qual mais de 3,5 milhões de
pessoas referiram que tinham tido diagnóstico médico de LER/Dort e o
maior registro dessas afecções pela Previdência Social, de pouco mais de
145 mil em 2008, fica fortemente sugerida uma discrepância muito
grande”, afirmam as pesquisadoras da Fundacentro.
“Embora em
relação às LER/Dort não se tenha feito essa comparação por falta de
dados na PNS sobre o ano de diagnóstico, os dados dos AEPS e os relatos
de trabalhadores, suas entidades sindicais, profissionais de segurança e
saúde no trabalho das empresas nos permitem afirmar que a
subnotificação é significativa”, completam.
Os trabalhadores até
conseguem o diagnóstico médico de tendinites e tenossinovites, por
exemplo, mas a relação com o trabalho, na maioria das vezes, é omitida.
“O Sistema Único de Saúde (SUS), cujos profissionais não têm vínculo com
as empresas, poderia então, atuar de forma efetiva, como preconiza o
protocolo do Ministério da Saúde. No entanto, sabotado pelos que veem na
saúde um excelente meio de lucrar e sem um verdadeiro apoio da
sociedade, o SUS não se constitui em uma rede potente de diagnóstico de
doenças ocupacionais”, apontam.
Quando se encontram incapacitados
para o trabalho, os trabalhadores são encaminhados, geralmente, sem a
emissão de CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho) ao INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social).
Intensificação do trabalho
As
LER/Dort ganharam visibilidade nos anos 1990 a partir da integração de
movimentos promovidos pelas entidades sindicais de trabalhadores e da
produção de textos científicos sobre o tema. Nessa época, surgiram os
primeiros protocolos dos então ministérios da Saúde e da Previdência
Social.
Apesar das conquistas normativas, as transformações do
mundo do trabalho levaram a terceirizações, intensificação e ritmo
acelerado de trabalho. Os trabalhadores sofrem com metas inatingíveis,
avaliações de desempenho com repercussões sobre a remuneração,
humilhações, sensação de impotência e assédio moral. As consequências à
saúde vêm dos desgastes físicos e psíquicos a que são submetidos os
trabalhadores.
Neste cenário, os processos produtivos e de
serviços que mantêm a exigência de movimentos repetitivos se destacam na
ocorrência de LER/Dort. Linhas de montagem e embalagem, frigoríficos,
bancos, teleatendimento, entre outros, geram desgaste e ocorrência de
afecções musculoesqueléticas crônicas, incapacitantes e acompanhadas de
sofrimento e transtornos psíquicos.
Mas a intensificação e a
precarização do trabalho atingem todos os setores, inclusive o público.
“No setor público, a diminuição de concursos e aumento de terceirizados,
acompanhados pela invasão da lógica da gestão privada, impõe uma
realidade na qual os trabalhadores enfrentam prescrições inexequíveis,
uma máquina emperrada pela burocracia, um processo de avaliação de
desempenho voltado a punições disciplinares e uma penalização salarial,
sem que se reflita sobre a missão do poder público de garantir os
direitos de cidadania conquistados na Constituição Federal”, alertam as
autoras.
É fundamental para se prevenir esse tipo de adoecimento
que se alterem os fundamentos da gestão e organização do trabalho. O
trabalhador precisa ter autonomia e seus limites respeitados. Seria
necessário trilhar um caminho inverso ao que se vem construindo,
pensando também na construção de políticas públicas e na preservação dos
direitos sociais.
“As reformas trabalhista e previdenciária, ora
em questão no país, trazem apreensões para os segmentos sociais que se
preocupam com o aprofundamento da precarização do mundo do trabalho, com
a fragilização do arcabouço de proteção à saúde do trabalhador, e
consequentemente com o provável aumento do número e gravidade dos
acidentes e doenças relacionadas ao trabalho”, concluem as pesquisadoras
da Fundacentro.
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