A reforma trabalhista é tão ruim quanto a previdenciária
A reforma trabalhista visa desregulamentar direitos e
regulamentar restrições. Sem falar que vai acabar também com a Justiça e o
Direito do Trabalho.
Todas as
atenções estão voltadas para a reforma da Previdência (PEC 287/16), como se a
reforma trabalhista (PL 6.787/16) não existisse ou fosse menos prejudicial.
Ambas as proposições retiram direitos dos trabalhadores. Ambas impõem
retrocessos sociais. Por isso, o combate a ambas deve ser na mesma proporção.
Se a reforma da
Previdência dificulta ou acaba com o direito à aposentadoria e/ou pensão,
porque pode destruir a Previdência Pública; a reforma trabalhista pode destruir
os direitos trabalhistas, o Direito do Trabalho e a Justiça do Trabalho. Uma “reforma”
completa a outra, numa lógica perversa que precisa ser denunciada. Sem
legislação trabalhista, a primeira consequência será a redução drástica de
salário. E quanto menor o salário, menores ainda serão os benefícios
previdenciários - aposentadorias e pensões.
A mobilização e
luta contra as “reformas” precisam de estratégias. Como se o movimento sindical
se dividisse em duas grandes frentes: uma para debater e combater a reforma da
Previdência; e outra para debater e combater a reforma trabalhista.
Já há, salvo
melhor juízo, uma razoável massa crítica em relação à PEC 287/16. Agora é
necessário dar vazão às informações que ajudam a combater e desmistificar o
discurso do governo de “quebradeira da Previdência”.
O mercado, o
sistema financeiro, os empresários, sobretudo os grandes, querem reduzir as
despesas com Previdência, porque essa é a segunda maior despesa do Orçamento da
União. A primeira grande despesa é o pagamento dos juros e rolagem da dívida.
Para isso, o governo reservou R$ 1,7 tri, dos R$ 3,5 tri do orçamento de 2017.
Para que a
emenda constitucional do congelamento de gastos (EC 95/16) tenha efetividade é
preciso fazer a reforma da Previdência. Daí virá grande parte dos recursos para
pagar os juros e serviços da Dívida Pública, em benefício do sistema
financeiro, do rentismo.
Outro
sonho de consumo do mercado
A reforma trabalhista tem o mesmo caráter. Retirar direitos para reduzir o
custo da mão de obra, que já é um dos mais baratos das grandes economias
mundiais. Essa redução vai maximizar o lucro dos empresários. E, ainda, tem o
objetivo de atender outro sonho de consumo do mercado, dos empresários e da
bancada que representa os interesses do capital no Congresso Nacional - acabar
com a legislação trabalhista.
A reforma
trabalhista visa desregulamentar direitos e regulamentar restrições. O mercado
trabalha com a falsa lógica que para aumentar o número de vagas é preciso
desregulamentar direitos.
O objetivo de
inserir numa lei infraconstitucional o “negociado sobre o legislado”, elemento
central do PL 6.787/16, é exatamente restringir direitos. Do contrário não
precisaria, pois a legislação já prevê que a negociação se sobressaia quando
acrescenta ou amplia direitos. Nenhum sindicato precisa colocar no acordo ou na
convenção coletiva o que já está consignado em lei, já que os direitos
assegurados em lei são inegociáveis ou irrenunciáveis.
Assim,
portanto, com a desregulamentação da legislação trabalhista tudo poderá ser
negociado. Tudo mesmo!
Por fim, para
entender a gravidade e consequência negativa que a reforma trabalhista vai
trazer para as relações de trabalho, é que tal reforma, se for aprovada, vai
“comprometer não apenas o Direito do Trabalho, que perde seu caráter
irrenunciável e de ordem pública, mas também a própria Justiça do Trabalho, que
só se justifica para fazer cumprir os direitos trabalhistas, além de
inviabilizar a própria organização sindical, que passará a enfrentar a pressão
do trabalhador e não mais diretamente do patrão”, refletiu o diretor de
Documentação do DIAP,
Antônio Augusto de Queiroz, em artigo “Reforma trabalhista e fontes de
direito”.
Portanto, ambas
as “reformas” se equivalem no quesito “retirada de direitos” e retrocessos
sociais, sendo que a trabalhista traz consigo um componente a mais: o
enfraquecimento do movimento sindical. Como se vê, o risco de retrocesso,
realmente, é muito grande.
Marcos Verlaine - Jornalista, analista político e assessor parlamentar do Diap
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