VÍCIOS QUE VOCÊ PRECISA ELIMINAR AGORA DA SUA REDAÇÃO
Num mundo dominado por e-mails, redes
sociais e aplicativos de mensagens como o WhatsApp, a comunicação
escrita tem um espaço central no cotidiano. Mais do que nunca, é preciso
saber escrever com objetividade, clareza e coerência — ainda mais em
situações profissionais.
Ter uma boa redação não é um "luxo" dispensável: a competência é decisiva para o sucesso em qualquer segmento de atuação.
“A excelência na escrita tem impacto
direto sobre a carreira", diz Rosângela Cremaschi, professora de
comunicação da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap) e consultora na
RC7. "É comum que ela se traduza em promoções, aumentos salariais e
visibilidade no mercado de trabalho”.
Além de trazer benefícios para o
indivíduo, o cuidado com a linguagem também faz bem para a saúde das
empresas: quanto maior a qualidade do diálogo entre as pessoas, mais
fáceis se tornam os acordos. Bons textos geram bons negócios.
Mas como aperfeiçoar a sua redação e gerar oportunidades para si mesmo e para o seu empregador?
Um bom começo é conhecer alguns vícios muito comuns, mas fáceis de eliminar, como os que você verá a seguir:
1. Usar expressões “difíceis” (que não significam o que você pensa)
Quem nunca leu (ou escreveu) algo como
“Essa questão deve ser discutida junto ao departamento de RH”? Segundo
Cremaschi, a expressão “junto a” significa “perto de”. Pode até parecer
mais culto dizer que você discutiu a questão junto ao departamento, mas
isso não faz sentido: escreva simplesmente que a discutiu com o
departamento.
“Posto que” é outra expressão elaborada
que muita gente emprega equivocadamente, afirma Diogo Arrais, professor
de português do Damásio Educacional. O sentido correto é adversativo
(como “embora”), e não causal (como “já que”). A norma culta prevê que
você diga algo como "Posto que estivesse chovendo, fui à praia", e não
"Posto que fizesse sol, fui à praia".
Outro exemplo é a palavra “assertivo”,
muito usada no discurso corporativo com o sentido de “preciso”, “exato” e
“correto”, talvez pela semelhança sonora com a palavra “acerto”. O
significado, porém, é outro: uma pessoa assertiva é aquela que expõe e
defende suas ideias com firmeza, autoconfiança e vigor.
2. Insistir em fórmulas prontas
Segundo o professor Diogo Arrais, do
Damásio Educacional, muitos profissionais ainda enfeitam suas redações
com frases consagradas, que pouco ou nada acrescentam à mensagem.
Exemplos típicos da correspondência profissional são “Venho por meio
desta” ou “Sem mais para o momento”.
Além de soarem pouco naturais, essas
fórmulas alongam o texto desnecessariamente e criam barreiras para a
compreensão do seu recado. Quer manter um diálogo mais claro e genuíno
com o seu leitor? Revise seu texto e corte todas as frases e expressões
que estão ali só por convenção.
3. Repetir, repetir, repetir
"Muita acredita que, para que o
interlocutor compreenda bem sua mensagem, é preciso ‘reforçar’ o texto
com a repetição de informações e palavras”, diz Cremaschi. Na verdade, é
o contrário: a redundância só serve para cansar e desconcentrar o
outro.
Para sanar o problema, a dica é usar
conjunções, como “entretanto”, “porém” e “embora”, e pronomes relativos,
como “dos quais”, “onde” e “cujo”, que criam conexões entre as ideias e
dispensam a necessidade de retomá-las várias vezes.
Pesquisar sinônimos para as palavras que
precisam ser repetidas também é interessante, recomenda Arrais. O
dicionário não é o "pai dos burros", como se costuma dizer, mas o aliado
dos curiosos.
4. Ignorar possíveis duplos sentidos
Na frase “A diretora discutiu com o
gerente o seu descontentamento com a equipe”, de quem é o
descontentamento: da diretora ou do gerente? Desprovida de recursos como
o tom de voz e as expressões faciais, a comunicação escrita é
especialmente suscetível a mal-entendidos. Um erro bastante comum é
negligenciar esse risco, deixando de ler o texto com o olhar do
interlocutor.
“Ao escrever, dê uma pausa, vá buscar um café e depois o releia, a fim de checar se não há dupla interpretação”, diz Cremaschi.
Cuidar da pontuação também ajuda a
evitar a ambiguidade. Basta ver a diferença entre “Pegue o livro, que
está na gaveta” e “Pegue o livro que está na gaveta”. No primeiro caso,
há um único livro, e seu lugar é a gaveta. No segundo, pode haver vários
livros, mas apenas o que está na gaveta deve ser pego.
5. Cometer velhos erros
Mesmo profissionais de alto gabarito
hierárquico escorregam em velhos tópicos de gramática, endereçados desde
os tempos de escola. Os verbos“haver” e “fazer” são exemplos típicos.
Muita gente já sabe que ambos devem permanecer no singular quando têm
sentido de existência ou tempo transcorrido. No lugar de “Fazem dois
anos” e “Haviam dados”, deve-se escrever “Faz dois anos” e “Havia
dados”. Mas a forma incorreta ainda aparece em muitos textos
profissionais, diz Cremaschi.
Em parte, a reincidência em erros
antigos se explica pela correria da rotina. Mas não é apenas isso. “A
maioria das pessoas escreve com pouquíssima atenção”, explica Arrais.
“Para evitar esses lapsos, você precisa pensar no seu leitor e fazer uma
revisão do que redigiu antes de apertar o botão ‘enviar’”.
6. Falhar na padronização
Outro vício comum é negligenciar regras
básicas sobre sinais e abreviações. Não é mero formalismo: num texto
profissional, a padronização ajuda a deixar a comunicação mais limpa e
clara. “Quando o texto respeita um sistema conhecido, a leitura se torna
mais fluida”, explica Cremaschi.
A professora chama a atenção para a
notação do horário: o símbolo de hora é “h”, o de minuto é “min” e o de
segundo é “s”. Para descrever uma duração, usa-se “das 9h às 10h30", por
exemplo. O símbolo “min” só será obrigatório se também forem citados os
segundos. Você pode escrever, por exemplo, que uma determinada prova
olímpica dura 1h15min10s.
As siglas também precisam seguir um
padrão. Na primeira vez em que citar algo como o BNDES, escreva primeiro
o nome correspondente por extenso, desta forma: “Banco de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES)”. A partir daí, fique à
vontade para usar só a sigla quando mencionar a instituição.
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