FALTAS AO TRABALHO POR MOTIVO DE ENCHENTE E TRÂNSITO PODEM SER DESCONTADAS
Sergio Ferreira Pantaleão
A legislação
trabalhista admite determinadas situações em que o empregado poderá
deixar de comparecer ao trabalho sem prejuízo do salário.
Dentre as situações previstas estão o falecimento do cônjuge, casamento, nascimento de filho, doença ou acidente de trabalho, entre outras que garantem a manutenção da remuneração.
No entanto, há situações não previstas na legislação que podem gerar a falta ao trabalho e que as empresas ficam sem saber se abonam ou descontam do empregado.
Ultimamente
as principais situações que podem gerar a falta ao trabalho são as
enchentes (que causam congestionamento gigantescos no trânsito) e os
protestos da população nas principais ruas de acesso pelo transporte
coletivo, situações que podem comprometer o deslocamento do trabalhador
para seu local de trabalho, justamente por estar (involuntariamente)
impedido de trafegar pelas ruas ou mesmo preso nos terminais e
plataformas de ônibus, fatos estes que podem ser apurados pelas
empresas.
Ainda que a
falta tenha sido provocada por motivos alheios à vontade do empregado,
tais motivos não estão previstos na legislação trabalhista e, portanto,
os dias não trabalhados podem ser descontados.
Há que se verificar, no entanto, se tais motivos estão previstos em acordo ou convenção coletiva de
trabalho, o que afastaria a possibilidade do desconto, pois tais
normas devem ser respeitadas pelas empresas, consoante o art. 7,
inciso XXVI da Constituição Federal.
Mesmo não havendo previsão em acordo ou convenção coletiva as empresas podem optar, por exemplo, em compensar estas faltas em outros dias da semana, ou ainda, lançar as horas em banco de horas, situação em que o empregado poderá compensá-las até o término do período de banco.
Não obstante,
uma vez comprovado a impossibilidade de locomoção por fato público e
notório em razão de enchentes, alagamentos, protestos e
congestionamentos, cabe às empresas optar pelo bom senso a fim de não
prejudicar o empregado, principalmente se restar comprovado que a falta
se originou por motivo de força maior.
O bom senso
deve ser recíproco, ou seja, se um empregado está impossibilitado ou não
quer se arriscar em se deslocar para o trabalho com veículo próprio em
função de uma possível enchente anunciada pelo mau tempo, nada o obsta
em tomar um ônibus, trem ou metro para cumprir sua jornada de trabalho.
Nestes casos,
há que se apurar se o empregado tinha ou não a possibilidade de tomar
caminhos alternativos para se chegar ao trabalho.
Se não havia
alternativa ou se o empregado faltou ao trabalho para salvar seus
pertences por conta da inundação de sua residência, puni-lo com o
desconto do dia não trabalhado seria uma pena excessiva, o que
poderia comprometer ainda mais sua situação financeira.
É importante
também que em tais situações o empregado, antecipadamente, comunique a
empresa do ocorrido, primeiro para dar satisfações ao seu empregador do
que está ocorrendo e segundo de modo a evitar o desconto de faltas e
oportunizar a compensação das horas não trabalhadas futuramente.
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