Em busca da legitimidade perdida
por Mario Lima
Foto: Tiago Melo/ Bahia Notícias
O Brasil está mergulhado em uma crise multifacetária. É econômica; É política; É moral; pior ainda: é de legitimidade.
A operação Lava-Jato desvenda em cada uma de suas fases a relação
promíscua entre os poderes político e econômico. Com isto, a
credibilidade das instituições basilares da democracia desce ladeira
abaixo.
O País está dividido pela batalha do impeachment da Doutora Dilma.
Independentemente do seu vencedor, a Nação não se reconciliará.
Para conseguir os votos necessários ao arquivamento do processo de seu
impedimento, a Doutora segue no jogo que levou o seu Governo para a
lama. E aí, se atingir seu intento, terá ganho o governo, mas não a
governabilidade, porque será ainda mais refém do fisiologismo e não
readquirirá a confiança da sociedade.
Dê o contrário, o resultado não será diferente. Para ter maioria
parlamentar, o eventual Governo Temer terá que negociar com as mesmas
figurinhas com quem Dilma negocia. Ou seja, com licença do trocadilho,
vai fazer sua base naquela base...
Seja, pois, qual for o resultado, a sociedade então verá o mais do
mesmo, justamente o que ela não espera. Logo, o fato é que subsistirá
uma profunda crise de credibilidade pelos anos faltantes para o próximo
mandato Presidencial.
A população está com os seus ânimos exaltados. E ninguém espere que a
fervura baixe depois da votação do impedimento, uma vez que as paixões
obstruem os canais de diálogo. Prova maior da implosão das pontes são as
alcunhas coxinhas e petralhas. Adjetivar pejorativamente o contendor é
atestado da incapacidade e indisposição de construir com ele algum
consenso.
Mas afinal, por que se batem? Pela ética? Pela democracia? Seja lá o que
for ou tudo somado, o que falta de ambos os lados são lideranças com
estatura para lhes mostrar que em suas fileiras tem de tudo um pouco,
porque resultam dos mesmos processos viciados pela promíscua relação
entre os poderes econômico e político. E assim, o melhor seria baixar as
armas, não em nome de uma rendição ao jogo sujo, mas pela construção de
um novo caminho.
Diante da perda de legitimidade do seu Governo, o impeachment de Dilma
tornou-se uma imposição dos fatos. Mas quem vai decidi-lo não está em
melhor situação. Não vou aqui falar do tanto de Deputados e de Senadores
encrencados com a Justiça, mas do que a Lava-jato está revelando. As
eleições de 2014, como nunca antes na história deste País, foram
viciadas pela influência de propinodutos. E assim, tal qual o Executivo,
o nosso Legislativo não representa legitimamente a vontade soberana do
povo.
Resumo da ópera, a saída para a nossa crise moral, mãe das outras
crises, é o resgate da legitimidade de nossas instituições. Neste
sentido, as Entidades representativas da sociedade civil, como OAB, ABI,
CNBB, Movimento de Combate a Corrupção Eleitoral, Juízes Pela
Democracia, poderiam urgentemente encampar a tese de eleições gerais
ainda para este ano, mesmo que por um mandato tampão, colhendo
assinaturas para uma emenda constitucional que antecipe o fim de todos
os atuais mandatos. Conquanto difícil de passar, tal iniciativa não
poderia ser taxada de golpe porque viria do povo, por meio de um recurso
legal e afetaria a todos indistintamente. Lembro aqui o que nos ensinou
Chico Xavier: Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo. Mas
qualquer um pode recomeçar e fazer um novo fim.
* Mario Lima é advogado e procurador do estado da Bahi
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