Mais uma conta para os trabalhadores
*) Carlos Alberto Schmitt de Azevedo
Com a chegada de Nelson Barbosa
ao ministério da Fazenda, ocorre uma sinalização de que a tão aguardada
correção da tabela pode vir a não acontecer, o que nesse momento de
profunda crise econômica geraria ainda mais prejuízos aos contribuintes e
aos trabalhadores
Peço desculpas aos meus inúmeros amigos economistas, contabilistas e
administradores, que fazem parte, em grande número, da base sindical da
Confederação Nacional das Profissões Liberais – CNPL para, como leigo,
opinar e levantar algumas questões em relação a um assunto que interessa
à totalidade das classes trabalhadoras, das forças produtivas e do
conjunto da sociedade: a correção da tabela do Imposto de Renda.
No ano passado, atendendo ao enorme clamor suscitado pela questão, o
então ministro da Fazenda, Joaquim Levy, negociou um aumento escalonado
da tabela, entre 4,5% e 6,5%, dependendo da faixa de renda do
contribuinte, que começou a vigorar em abril.
Este arranjo, em um primeiro momento, provocou um impacto na
arrecadação da ordem de R$ 6 bilhões, todavia em menor escala do que
ocorreria caso a correção aplicada fosse de 6,5% para todas as faixas de
renda, proposta essa aprovada pelo Congresso, mas vetada pela
presidente Dilma. A intenção do governo era de que a correção fosse de
4,5%, mas acabou cedendo com o escalonamento do reajuste, o que
beneficiaria as faixas de rendas mais baixas.
Com a chegada de Nelson Barbosa ao ministério da Fazenda, ocorre uma
sinalização de que a tão aguardada correção da tabela pode vir a não
acontecer, o que nesse momento de profunda crise econômica geraria ainda
mais prejuízos aos contribuintes e aos trabalhadores, face à corrosão
dos salários e ao aumento generalizado do custo de vida, ocasionado por
uma inflação que já superou a barreira dos dois dígitos, fazendo com que
o trabalhador pague mais imposto.
Em conversa com o professor e economista da Universidade Federal do
Rio Grande do Sul, Fernando Ferrari Filho, fiquei a par de que o
reajuste da tabela do IR vigora desde 2007, baseado na Lei 14.469, que
reajusta os valores em 4,5%. A correção para 2016 será a mesma dos anos
anteriores, isto é, 4,5%.
Entre 2007 e 2015, o reajuste foi da ordem de 48,6%, ao passo que o
IPCA acumulado foi da ordem de 71,8%. Ou seja, a diferença/defasagem, no
referido período, entre os valores reajustados e a inflação oficial é
da ordem de 15,6%.
Isto posto, de acordo com a análise do professor Ferrari, se o
governo não quer corrigir a tabela do IR pela inflação de 2015, que foi
de 10,67%, devido à necessidade de ajuste fiscal, seria interessante que
fosse encaminhado ao Congresso Nacional uma proposta efetiva de reforma
tributária, na qual se ampliasse a base de cálculo em conformidade com
maiores alíquotas.
Por exemplo, 15%, 22,5%, 27,5%, 35,% e 40%. Mas caso, como se
configura, seja mantida a defasagem da correção da tabela do IR, e dadas
tanto a perda de poder de compra, devido à inflação, quanto a perda do
emprego, decorrente da recessão, os contribuintes e trabalhadores
acabarão pagando, mais uma vez, pelo ajuste fiscal.
E essa é a tendência que vai se desenhando no horizonte, pois segundo
disse o próprio ministro Barbosa, “não há espaço fiscal para a revisão
da tabela porque o momento atual é de recuperação de receitas, que
continuam num quadro de grande fragilidade”.
Além de não ter intenção de rever a tabela do IRPF, o ministro
afirmou que este não é o melhor momento para discutir medidas na área
tributária que aumentem a alíquota do Imposto de Renda para taxar as
camadas mais ricas da população, reivindicação histórica das forças
políticas de esquerda e também do movimento sindical.
Como sempre, ao que parece, a corda vai arrebentar do lado mais fraco.
(*) Presidente da Confederação Nacional das Profissões Liberais
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