Para não reajustar aposentadorias, Dilma baixa MP corrigindo mínimo
Em ação coordenada com líderes aliados na Câmara, a presidente Dilma
Rousseff editou ontem medida provisória que estende a política de
correção do salário mínimo de 2016 até 2019 e, com isso, evitou uma
possível derrota na votação, no plenário da Casa, de projeto que dá
ganho real aos aposentados do INSS que ganham acima do piso. O governo
estava preocupado com o impacto de mais de R$ 2 bilhões que o ganho real
para os aposentados, defendido por centrais sindicais, provocaria nas
contas públicas.
A proposta de editar a MP estendendo a correção do mínimo foi
patrocinada pelo PMDB e contou com o apoio do presidente da Câmara,
Eduardo Cunha, que concordou em retirar da pauta de votações a proposta
que beneficiava aposentados. A atitude de Cunha irritou deputados da
oposição.
Dilma nega atropelar o Congresso
Tanto a presidente Dilma quanto Cunha disseram que a MP é importante em
razão das comemorações do Dia do Trabalho, em 1º de maio. No discurso,
Dilma disse que foi a base aliada quem sugeriu a edição da MP, e que não
está atropelando o Congresso:
- Tradicionalmente, sempre foi o Executivo que enviou as medidas
provisórias de valorização do salário mínimo. Não estamos atropelando
nada nem ninguém, estamos exercendo uma coisa que é característica do
governo: a iniciativa de algo que gera despesa.
Duas horas antes da cerimônia, o ministro Miguel Rossetto, da
Secretaria Geral da Previdência, convidou os presidentes das principais
centrais sindicais para o evento. Como estavam em Brasília para
convencer parlamentares a alterar as medidas dO ajuste fiscal, foram ao
palácio os presidentes da Força Sindical, Miguel Torres, da CUT, Vagner
Freitas e da Nova Central, José Calixto Ramos. As demais enviaram
representantes.
Miguel Torres disse que a MP apenas adia o problema, pois as centrais
vão continuar defendendo uma política de recuperação salarial para
aposentados.
A oposição reagiu à decisão de Cunha de retirar de pauta a proposta que
garantiria o aumento real para aposentados que ganham mais que um
mínimo. O projeto começou a ser votado em março e só faltava o destaque
dos aposentados.
- Acho que começou a lua de mel dele (Cunha) com o PT e o governo.
Espero que seja amor passageiro. Deixa a relação aqui tensa. Editar essa
MP sobre projeto que estamos votando é desprezo pelo Legislativo -
criticou o líder do DEM, Mendonça Filho (PE).
Cunha negou ter cedido à pressão do Planalto e disse que foi ele quem
tomou a iniciativa de votar o projeto, de autoria da oposição.
- A MP chegando na Casa, podem fazer emendas. E se o Planalto editou a MP é porque a gente pautou a Casa com esse projeto.
A política de reajuste do salário mínimo, que vigora sempre a partir de
janeiro, é composta pela reposição da inflação e o resultado do PIB nos
dois anos anteriores (de 2003 até agora, o mínimo teve valorização de
70%). Os benefícios previdenciários com valores superiores ao salário
mínimo são corrigidos apenas pela INPC.
Anteontem à noite, a ideia de propor a edição de uma MP foi discutida
por Cunha e pelo líder do PMDB na Câmara, Leonardo Picciani (RJ), com o
vice-presidente Michel Temer, que ligou para Dilma e falou sobre a
proposta. Na reunião de líderes, ontem, Picciani defendeu a ideia e
obteve apoio dos demais líderes aliados.
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