Geração de emprego se concentra em vagas de baixo salário este ano
O ritmo mais fraco de geração de emprego
não é o único indicativo da perda de fôlego do mercado de trabalho
neste ano. A expansão do setor de serviços e das vagas de jornada
parcial, além da compressão na correção do salário mínimo estão
contribuindo para concentrar as vagas que estão sendo criadas este ano
nas faixas salariais mais baixas. Entre janeiro e setembro, a proporção
de vagas com remuneração de até um salário mínimo abertas no mercado
formal passou de 28% – levando em consideração a composição do saldo no
mesmo período do ano passado – para 35,5%, como apontam os números
disponíveis no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged).
A faixa entre um e um salário e meio
ainda concentra a maior parte dos postos com carteira assinada gerados
neste ano, 62%, mas em proporção menor do que no ano passado, quando
chegou a 66,6%. O estrato entre 1,5 e 2 salários mínimos, que chegou a
responder por cerca de 15% do total da geração de emprego do país em
2007 e 2008, conta agora 2,5% do saldo total de vagas, de acordo com
levantamento feito pelo Valor.
Parte dessa compressão é efeito da
política de valorização do salário mínimo, que cresceu 72,35% em termos
reais de 2002 a 2014. “Mas o cenário deste ano é claramente de
desaceleração”, avalia João Saboia, professor da Universidade Federal do
Rio de Janeiro (UFRJ), referindo-se ao aumento real de 1,16% do piso
neste ano, patamar bastante inferior ao dos anos anteriores. O
economista chama atenção ainda para o perfil da geração de emprego
formal no Brasil em 2007 e 2008, quando a economia avançou 6,1% e 5,2%,
nessa ordem, e a faixa entre dois e três salários mínimos representou
0,9% e 2,3% do total de postos adicionados ao estoque – saldos positivos
que não se repetiram no período posterior.
Hélio Zylberstajn, da Faculdade de
Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo
(FEA-USP), considera o quadro condizente com o papel cada vez mais
preponderante dos serviços na abertura de novas vagas. Até setembro,
esse setor respondeu por 62,6% do saldo, contra 41,4% no mesmo intervalo
do ano passado e 33,1% em 2008. Esse avanço, lembra o professor,
acontece em detrimento do emprego industrial, que apurou saldo negativo
no registro do Caged em cinco meses entre janeiro e setembro. “É uma
troca ruim. O ideal era que tivéssemos os dois crescendo juntos. Estamos
desqualificando o emprego”, diz.
O economista prefere olhar os dados
pelos números absolutos de contratações enviados ao Ministério do
Trabalho. Sob esse ângulo, o tipo de emprego que mais cresceu entre 2006
e 2014, sempre analisando o acumulado entre janeiro e setembro, foi
aquele que paga até meio salário mínimo, 145%. Essas são vagas de
jornada parcial, já que o salário mínimo é o piso legal e obrigatório
instituído no país. Segundo os dados do próprio Caged, o total de
admissões para vagas com carga horária de até 20 horas semanais cresceu
223% no intervalo. De volta à análise pelo saldo de geração de vagas, a
faixa de até meio salário mínimo já é 4,6% do total dos empregos gerados
no país, contra 1,5% em 2006.
“Mas o número absoluto ainda é muito
pequeno”, ressalva Zylberstajn. Ele ressalta as contratações no
intervalo entre 1 e 1,5 salários mínimos, patamar relativamente baixo de
remuneração, mas que também avançou bem acima da média de 64%
registrada entre 2006 a 2014 – 98%.
Para Rodrigo Leandro de Moura,
pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio
Vargas (Ibre-FGV), são os saldos negativos que mostram de forma mais
contundente os reflexos do baixo crescimento nos salários dos novos
empregos criados no país. Entre janeiro e setembro a economia brasileira
fechou pouco mais de 132 mil vagas formais com remuneração entre dois e
três salários mínimos – praticamente o dobro do resultado no mesmo
período do ano passado. Sem as demissões, o saldo total de postos com
carteira assinada deste ano seria 18,4% maior. Em 2013, no mesmo
intervalo, os cortes teriam impacto de 6,8% sobre o total.
Fonte: Valor
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