Estudo analisa setores que mais puxam a atividade em outras áreas da economia
Os setores de alimentos e bebidas, equipamentos de transporte (incluindo fabricação de automóveis e aeronaves), petróleo, produtos químicos e têxtil e calçados estão entre os que mais possuem efeitos encadeadores para trás na economia do país
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O aumento de produção nesses ramos puxa a produção de outros setores,
que lhe fornecem insumos básicos e intermediários, havendo um efeito
dinâmico em cadeia, afirma estudo elaborado por Nelson Marconi,
professor da FGV-SP, e por dois pesquisadores da Universidade de
Cambridge, Igor Rocha e Guilherme Magacho.
A análise, segundo Marconi, contribui para o debate sobre quais setores
são, ou deveriam, ser prioritários para o crescimento e desenvolvimento
da economia do país. Também contesta teses que ressaltam que o país
poderia se direcionar mais intensivamente para a produção de bens
primários - uma vez que tem abundância de recursos naturais -, abrindo
mão, de certa forma, de sua indústria, sem que isso prejudicasse o seu
crescimento e dinamismo. O trabalho também e contrapõe àqueles que
defendem que é possível ter dinamismo em uma economia muito baseada no
setor de serviços.
A pesquisa foi feita a partir de cálculos em cima da matriz
insumo-produto apurada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). O estudo criou 18 grupos de setores a partir de 55
ramos diferentes. Ao usar esse tipo de estatística, os economistas
acreditam que investigam o papel de um setor produtivo sem restringir a
análise apenas aos efeitos diretos na economia - geração de produção,
emprego, valor adicionado, impostos e exportação. Com esse tipo de
análise, é possível investigar os efeitos indiretos, gerados pelas
interferências que cada setor possui, ou não, sobre outros setores da
economia.
Os dados formam um retrato da primeira década dos anos 2000,
baseando-se em informações estatísticas desse período, sendo 2009 o
último ano de dados disponíveis. Não foi feita uma comparação com a
década de 90 por haver diferenças na base estatística do IBGE na questão
dos setores analisados.
A pesquisa contribui também para o debate sobre as interpretações de
que o país poderia apostar menos em alguns setores industriais
intensivos em mão de obra, porque não haveria mais competitividade
nesses segmentos, como é o caso de têxtil e calçados, em razão da
concorrência chinesa.
No caso dos calçados e têxtil, que aparecem entre os líderes em efeitos
para trás, Marconi ressalta que não são setores tecnologicamente
avançados, mas, como o estudo apontou, geram muitos encadeamentos para
trás. Isso é uma característica importante e que aparece como adicional
ao fato de ser um setor também relevante na criação de empregos.
"Não estamos dizendo para deixarmos de exportar primários, temos que
aproveitar isso, mas estamos dizendo que temos que tentar transformar os
primários em produtos de maior valor agregado", diz Marconi. "Ter uma
estratégia de crescimento do país baseada nos primários [na sua produção
e exportação] não vai gerar os mesmos efeitos sobre a economia do que
se você tiver uma estratégia baseada na indústria", afirmou.
Entre os melhores setores nos encadeamentos tanto para frente como para
trás estão petróleo (extração e refino), produtos químicos e
commodities minerais. Já entre os piores tanto em encadeamentos para
trás como para frente estão diversos ramos do setor de serviços,
comércio e construção. Entre aqueles que têm apenas bons encadeamentos
para frente estão os serviços mais modernos e os vinculados ao setor
industrial, o ramo de commodities agrícolas e o de serviços públicos.
Não ter fortes encadeamentos para trás significa que um aumento da demanda desses setores não trará grandes efeitos nos demais na economia nacional. Sobre os ramos que possuem apenas encadeamentos para frente, Marconi explica que isso significa que eles são dependentes do que ocorre em outros setores, o que é comum no ramo de serviços, por exemplo, que geralmente cresce quando a demanda da indústria aumenta.
"Estamos mostrando que os impactos que os setores têm na economia são distintos. Assim, ao ser prejudicado um determinado setor por uma certa política econômica, um gestor de políticas públicas vai ter que compensar isso", disse Marconi. A indústria de alimentos e bebidas, por exemplo, possui encadeamentos fortes para trás, e há vantagens comparativas porque trata-se de um setor que demanda commodities agrícolas, como café, leite, carne etc., uma produção em que o país é forte. E se trata também de um setor que é intensivo em mão de obra.
Por conta disso, explica o economista, se um gestor de políticas públicas decidir deixar quebrar setores como esse, no mínimo precisa saber de sua importância nos encadeamentos na economia e sua relevância na criação de empregos, de forma a pensar meios de compensar a redução da sua importância na economia.
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